MORTE: mais e mais

Não sei por quê, mas ao chegarmos a uma altura

do temo e dos modos vitais, viventes, quase vívidos,

tudo se torna proximidade incônscia da morte ...

...

Hoje acabo de conhecer a morte, dura, crua,

de um vizinho com quem tive paroladas, sérias,

sobre quase tudo o divino e também o humano.

Sabia eu que o amigo Modesto padecia (não sei bem)

cancro de pâncreas, acho, mas ...

E foi.

...

Ver-nos-emos (sic) agora, em uma hora, durante

o funeral. Terei de dar à Maria, a esposa, e às filhas

os meus sentimentos de dor e saudade dos tempos idos,

nossos e de Modesto ... E dos tempos próximos:

Como será a minha morte? Como receberei, morto,

os sentimentos das pessoas com quem tratei e falei

e discuti e mesmo confrontei? Haverá hipótese

de corresponder os seus sentimentos ...?

...

As aparências: o morto desaparece; os vivos persistem.

Nada e tudo é como era. Tudo e nada é como foi ...