COMO PIPAS
É estranho como às vezes dá a impressão de que o mundo todo não cabe em nosso peito ou o contrário, nosso coração não cabe no mundo. Como pipas, voamos alto contra o vento e parecemos pousar no espaço sob a luz do sol.
Uma música nos conduz com facilidade através do tempo e nos vemos imaginando o que poderia ter sido de nós e não tivéssemos tomado o caminho que nos trouxe até aqui.
Há uma necessidade urgente de algo em que acreditar, pessoas com quem conversar, mas não um assunto qualquer, é necessário um diálogo silencioso daqueles em que apenas o olhar fala. A necessidade de se falar do infinito, dos sentimentos, de assuntos que sejam profundos em todas as épocas, a infância, do cheiro da chuva, das auroras luminosas, das noites estreladas, de coisas que não têm preço.
O dia a dia feito de conversas vãs que não levam a lugar algum, não acrescentam e nem fazem crescer nosso espírito. Tudo parece pequeno demais, mesquinho demais, pessoas vazias e sem graça. Não que nos consideremos maiores que todos, contudo, o convívio com elas não preenche nossa necessidade de mais.
Deve ser a tal “alma de artista” que nunca se satisfaz e sempre quer mais e mais. Como a pipa no céu que pede linha e mais linha na ânsia de subir cada vez mais alto e sabemos que chegará um ponto onde a linha arrebentará e a pipa será levada para bem longe pelo vento... Mas o que importa? As pipas foram feitas para voarem e não para se arrastarem pelo chão, desde uma simples capucheta até as coloridas de papel impermeável, com suas rabiolas esvoaçantes.