Desfez-se o nó
Congelada no tempo. Tantos anos ignorando as aulas de Português e talvez só hoje eu compreenda o quão solene era distinguir virgulas do ponto final.
Estou constantemente respirando as memórias que já nem deveriam existir. Trazendo à tona a metamorfose da dor.
Reminiscência em rompimento. E eu nunca disse adeus.
Findar o caixão nunca será uma tarefa fácil, mas como as folhas caem no outono, é assim que a vida tem que ser. Em um instante teremos que ruir e entender que nosso dever aqui foi feito. Desfez-se o nó.
Intenso e perspicaz. A crônica é nirvana e motim. Da frenética mente nasceu a borboleta que voou sobre os dias de ternura com algumas pitadas de decepção. E não satisfeita, eu te fiz e refiz das próprias mágoas e consolações, te desenhei no céu e no inferno. Eu te forjei como uma rosa no jardim e decidi no prazo certo do relógio que era hora dessa flor murchar. Eu te matei. É o fim.
ATO FINAL
Caminhou na grama fresca deleitando do discrepante cheiro de mato molhado. E perante a lápide abandonou uma rosa preta e um cartão.
“Faça boa viagem, fique imerso em gratidão.”
Sempre foi um adeus. – Disse e voltou para o carro.
Para onde senhora? – Pergunta o taxista caótico pelo modesto sorriso no rosto de sua passageira.
Outro livro. – respondeu apenas. E o carro seguiu em frente. E ela?
Ela também.
– Ponto final.
10 de fevereiro de 2020.