• CÂNTICO DA SEREIA

Fiquei aguardando alguns minutos na cafeteria, e foi impossível não notar aquela mulher bonita, destacar na multidão e vir em direção à mesa. Ela sorriu, e senti que estava mais próximo do paraíso, mas resistindo a todas as tentações, que aquela mulher pudesse causar em mim.

- Boa tarde,

- Boa tarde. Esperando a muito tempo?

- Não, mas suficiente para parecer uma eternidade

Ela sorriu, ainda mais bonita e radiante, apaixonadamente charmosa, aquele tipo de mulher que você observa nos detalhes, que conquista com gestos e sorrisos, que parece mais experiente ainda que com características de uma jovem. Os gestos delicados e suaves, parecia fazer compor um cenário ainda mais bonito, aquele que fica destacado ao lembrar de alguém, e olhando na minha direção, indagou:

- O que está analisando?

- Não estou analisando.

- Está sim, conheço esse olhar.

Ela com certeza conhecia qualquer olhar mais invasivo, assim fiz sinal para o atendente que serviu nossa mesa rapidamente. Ficamos conversando, sendo analisado e observado por aquele olhar profundo e inquieto, quase em uma analise cirúrgica. Aquele olhar insinuante e profundo, mas desconfiado, fez tomar uma atitude rápida, e sentei ao lado dela, segurando em sua mão, que ficou ainda mais surpresa e disse:

- Isso é para evitar meu olhar?

- Não para ficar mais próximo.

- Quanto mais próximo?

Fiquei nervoso com a pergunta, suficiente, para temer a resposta, ainda que sentisse uma vontade de sussurrar no ouvido dela, que o café havia sido uma boa idéia, mas com aquele sorriso, e aquele olhar, seria impossível não querer que ficasse para o jantar, o café da manhã, o almoço, e para aquele cinema, ou sessão pipoca no sofá de casa, em um dia chuvoso, ou naquele domingo que dá vontade de ficar embolado na pessoa mais importante de sua vida. Relutei, e disse:

- Suficiente para fazer você sorrir

- E na distância exata que possa sempre estar próximo.

Ela sorriu, de novo, um sorriso tímido, de quem não estava preparada, mas que talvez quisesse e precisa ouvir, e retrucou:

- Qualquer um pode fazer sorrir

- Mas esse sorriso expresso no olhar, não imagino.

Pude ver aquele sorriso estampar nos lábios dela, fosse qualquer o destino, aquele era o momento, e não apenas de aproveitar a companhia dela, mas de mostrar que qualquer que fosse o roteiro, mais importante do que qualquer coisa, era ver aquela moça sorrir, foi quando indagou:

- Vai querer outro café?

- Não! E você?

- Mais tarde, agora quero ir dar uma volta, podemos?

- Claro!

Eu havia planejado, tudo em detalhes, mas descobri que nenhum roteiro ou contexto poderia ser digno do espetáculo de ver aquela moça feliz, assim segurei na mão dela e decidi que a minha percepção dela, nunca seria justa sem que permitisse que improvisasse ao longo do caminho, porque era mesmo um espetáculo, do sorriso ao brilho do olhar, nos gestos suaves, mas principalmente do jeito dela, com todo aquele jeito de menina, era a mulher que poderia e merecia ser. E quanto a mim, naquele momento, segurar a mão dela, era estar segurando um mundo inteiro, que queria conhecer e sentir a partir daquele olhar brilhante e luminoso.

Fomos para o hotel, e após um banho, e algumas taças de vinho, sugeri uma massagem, que foi aceita, foi ao banheiro e retornou apenas com as peças íntimas e ainda um pouco receosa, deitou de bruços na cama, iniciei a massagem pelos pés, ao longo das pernas e por toda extensão das costas, ombros e nuca, com a ponta dos dedos e palma das mãos. Não posso negar, que observar o corpo dela a minha mercê, era tentador, e tinha sonhado e imaginado essa cena por tantas vezes que parecia ainda estar sonhando, um sonho bom do qual não iria querer acordar, apenas para não perder a sensação e emoção, preservar a lembrança de cada marca e cicatriz, do aroma e cheiro dela, ao ponto de dispersar, e ser indagado:

- Acabou?

- Imagina, comecei agora.

Pude ouvir a risada dela, e fiquei desconcertado, até porque não havia atentado para ter cessado a massagem, e estar apenas acariciando os cabelos dela suavemente. Retomei a massagem, suavemente, apreciando cada sinuosidade evidenciada nos detalhes, sem parar de sentir uma satisfação imensa, aquele tipo de orgulho que todo homem deveria sentir, aquele prazer raro de tocar a pele de uma mulher como ela, com as segundas melhores intenções que pudesse sentir. Você imaginar como seria, é inevitável, mas sentir agraciado por estar tornando realidade o que foi sonhado e imaginado, é surreal, e indefinível. Cessei novamente a massagem, apenas para atentar aos detalhes, como quisesse formar uma impressão perfeita dela, para quando acordar, porque parecia um sonho, ou quando fosse embora, pudesse sonhar com todos os detalhes dela, do sorriso, do olhar, dos gestos, da timidez natural e da insinuante e atraente forma dela de agir, com uma naturalidade e espontaneidade ímpar.

Mas assim, como uma sereia, aquela entidade mitológica e lendária, que faz da voz uma forma de seduzir e encantar, causando fascínio e atraindo para sua armadilha, foi dessa maneira que fui enviado para as profundezas, conhecendo a verdadeira natureza e intensidade das sombras e da escuridão, porque naquela noite descobri e pude sentir, com a experiência, que a lusão e a imaginação pode ser uma armadilha poderosa para nossos sentidos, e nossas aspirações e expectativas irão ser frustradas por atitudes, à quem confiamos nossa alma e coração.

• Damien Lockheart ¹

DAMIEN LOCKHEART
Enviado por DAMIEN LOCKHEART em 10/02/2020
Reeditado em 10/02/2020
Código do texto: T6862574
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