Falta

De frente para um espelho barato se olhou da cabeça aos pés

Se encontrava com uma blusa preta desalinhada, um buraco descosturado subindo pelo lado esquerdo da blusa, com uma calca sem bolsos. Quem via pensava que a blusa tinha sido vestida acidentalmente e que o estar sem bolsos também, mas não.

Cabelo esfarelado e com olhos que brilhavam, era assim bonito se de ver aquela pessoa, que se olhava no espelho e pensava faltar algo para se sentir alinhada.

De dia faltava-lhe um ombro onde recostar, um abraço para mergulhar, faltava-lhe um sorriso para assistir, alguém para rir e ter assim aqueles ataques de risos sincronizados, pensava que faltava tempo, que faltava espaço, que faltava reciprocidade, que faltava cumplicidade. Como muita fatiga. Faltava-lhe assim tanto e tanto.

De noite era assim seu quarto frio.

Na cama faltava-se alguém para conversar, faltava de alguém a respiração para ouvir, os sonhos, os espasmos. Sentia falta do que nunca teve como dormir com alguém acariciando seu rosto. Essa tal falta lhe doía muito, era como uma dor realmente física, a qual lhe abrangia os músculos do corpo e toda sua concentração.