• REFLEXO ²

Será que você é capaz de pensar, em tirar alguém da imaginação, e ser tirada da imaginação de alguém e poder viver e sentir de uma forma diferente, na verdade, mais do que apenas provocar ou instigar os desejos e vontades no corpo, mas causar aquela sensação inexplicável de haver encontrado ou sido encontrado, em um sentir ímpar ou inegável. Assim, estar diante da mala aberta sobre a cama, em um hotel, em qualquer outra ocasião seria natural, mas naquela situação, o inusitado era aceitar o convite de um anfitrião misterioso, que parecia conduzir e guiar meus sentidos, emoções, sensações e sentimentos por um caminho nunca antes imaginado ou sonhado. Pode imaginar, uma pessoa prática, decidida, empenhada e focada, de repente sentir ser seduzida ao ponto de imaginar como seria a situação, de querer de verdade, que aquilo que estava sendo imaginado e sonhado pudesse acontecer. De repente, aquele suíte de hotel, parecia mesmo ter sido conduzida para imaginação de meu anfitrião misterioso, que sugeriu que ficasse preparada para um fim de semana, para que pudesse descobrir e decifrar a intensidade de meu olhar, e provocar meus melhores sorrisos. Evidente, que tudo parecia loucura demais, para alguém que no momento queria apenas recomeçar a vida, mas sentir que poderia começar com a experiência adquirida, fazia ficar mais consciente e segura, do que queria e merecia, do que poderia aproveitar e do que poderia oferecer. Nosso primeiro contato, foi na suíte dele, após algumas taças de vinho, ficamos conversando por algumas horas, assim como fazíamos quando tínhamos oportunidade, a propósito, não havia tanto tempo assim de contato, mas foi suficiente para que pudesse sutilmente ser envolvida naquele “jogo de sedução” dele, na verdade, evidenciando minha presença como protagonista de um roteiro e contexto sob medida, e intencionado para envolver e seduzir, mas principalmente para encantar e fascinar. Pode imaginar, estar diante de uma mala, escolhendo qual lingerie iria usar naquela segunda noite, sorrir diante do espelho, ao imaginar aquele olhar surpreso desfilando na suíte dele, coberta pela camisa que havia deixado na minha suíte no armário previamente, para mesmo ser algo inacreditável para mim, mas surpreendentemente confesso estar a vontade com a ideia, com a sutileza do convite, e a delicadeza de cada parte do que havia sido proposto, do que poderia ter sido combinado, ainda que não tivesse combinado nada efetivamente, não foi questão de conceder, mas sentir aquela emoção e sensação do incomum, para alguém mais confiante e segura agora, fez arriscar, como nunca poderia imaginar que faria. Ao ir para suíte dele, naquela noite, após uma sessão de cafuné durante a tarde na varanda do hotel, da sensação de leveza que todos os sorrisos havia causado, fazia parecer dançar pelo corredor do andar, diante do elevador, minha imagem refletida no espelho, mais do que mostrar quem era, parecia revelar quem havia de quer ser, e melhor, quem havia tornado, muito diferente e consciente de tudo que havia passado para ser quem era naquele momento e circunstância. Ajeitar a camisa branca em frente ao espelho do elevador, fez tomar consciência, de que ainda que fosse a mulher de anos, formada e moldada pela experiência, era mais, uma combinação harmoniosa e emblemática, da menina com coração de moça, e uma mulher mais experiente, mais segura e confiante, assumidamente mais charmosa, elegante, e porque não afirmar, sedutora e bonita. Realçar e ressaltar os lábios com tonalidade vermelho cintilante, pareceu demonstrar que longe de ser apenas protagonista, minha intenção e pretensão era ser um espetáculo único e raro, para valorizar e enaltecer o mérito de meu anfitrião, que mais do que provocar e instigar desejos e vontades, havia conseguido despertar algo que parecia estar adormecido e guardado como um segredo e mistério de minha alma e coração. Ao abrir a porta, como havíamos combinado, e com a anuência dele, deparei com um ambiente preparado mesmo para minha chegada, as poucas velas iluminando o ambiente, a mesa preparada com vinho, morangos, chocolates e rosas, pareceu uma intimação para encarnar e incorporar a mulher que podia e ousava ver em mim, com aquele olhar que pareceu surgir nas sombras, e iluminar meu coração e alma, atrair para longe e para fora de tudo que havia vivido, e que ainda para mim, parecia aprisionar e conter minhas ações e atitudes, meus desejos e vontades, que agora parecia fluir sob a pele, como a alma e o coração pudesse transpirar ao desejar e ansiar por cada toque e carícia, por cada carinho, por cada beijo, por ser observada e apreciada com detalhes e capricho. O salto alto e o camisão, poderia ser mesmo uma forma de mostrar minha divindade, mas a lingerie sob a camisa, poderia revelar e mostrar, que não poderia ser apenas a mulher que alguém poderia imagina, com o qual poderia ter sonhado, mas que merecia, que deveria ver em detalhes, com capricho e minúcia, com a delicadeza de um olhar capaz de respeitar as marcas e cicatrizes, e admirar encantado e fascinado com a beleza mais experiente e sensual que podia expressar, que poderia ser interpretado, que a percepção poderia descobrir e desvendar, que os sentidos pudesse apreciar em detalhes. Aquela foi uma noite longa, assim como nossas conversas, foi uma noite de cumplicidade, de intimidade, de criar um vínculo, talvez um vínculo mais coerente e sensato que poderia haver entre duas pessoas, mesmo um laço, que poderia ser desfeito a qualquer momento, em qualquer circunstância ou ocasião, mas que nunca havia imaginado que mais do que tocar o corpo, sentir o carinho dele no coração e alma, fez sorrir diante do espelho, por tantas outras noites após nosso encontro, e assim como deveria e merecia ser, em mim havia sido despertado e revelado, um lado, mais íntimo da minha melhor versão, não apenas aquela que pode ser visto de uma mulher, mas aquela que uma mulher encontra ao reconhecer seu reflexo, sua melhor versão, a impressão e percepção de sua alma e coração no olhar de um homem. E é inegável, e posso confessar, foi mais expressivo e intenso os melhores sorrisos do que ver minha imagem refletida em qualquer espelho, com meu nome detalhado e realçado em uma tonalidade rubra como posso haver sonhado e imaginado que poderia ser.

• Damien Lockheart ²