Caro Coração...

Caro Coração,

Este é meu pedido de desculpas a você. Confesso que às vezes eu gostaria que sua função fosse apenas fisiológica, assim evitaríamos tantas turbulências.

Foi na quinta série quando descobri que você era muito mais do que apenas uma bomba de sangue. Você costumava tomar certas atitudes inesperadas, por exemplo, quando decidia bater tão forte me fazendo perder o jeito na frente daquele garoto. Era como se estivesse pulando desesperado para sair. Tá! Não vou mentir, era uma sensação... Prazerosa; aquele arrepio e a expectativa toda vez que ia conversar com ele.

Então você ficou aflito quando decidi dizer a verdade. Esperneou e gritou porque queria que aquele segredo ficasse somente entre nós, mas eu tinha que ser sincera, eu tinha que tentar. Recorda-se daquele dia? Para mim é como se fosse ontem. Você palpitava tanto dentro de mim que eu pensei que fosse cair dura ali mesmo. Lembro-me do meu rosto quente e da ansiedade, mas também me lembro do peso de uma tonelada que livrara as minhas costas. Senti-me leve como uma pena. Eu fiz o que tinha que fazer, no entanto, meu erro foi fazer esperando algo em troca. Foi quando te machuquei pela primeira vez, mas em minha defesa, tudo era novo e eu não sabia ainda como lidar. Talvez até hoje eu ainda não saiba...

Deveria eu lutar por aquilo que estava sentindo? Afinal, se tratava de um sentimento tão sincero e ingênuo. Parecia certo continuar insistindo, pois por mais difícil que fosse a resposta, eu a merecia; você merecia. Eu só estava atrás do ponto final para a minha história. Bem, ele nos colocou numa situação complicada, não é? Não disse "sim", mas também não disse "não", talvez por receio de me magoar. Em troca, você me fez sentir uma dor intensa como se tivesse facas cravadas em meu peito, como se me culpasse por tê-lo entregue a quem não merecia. O que eu podia fazer se nunca me deixou ter controle sobre você?

Bastou pouco tempo para aquela adrenalina se tornar em angústia e eu ser obrigada a superá-lo. Depois você se escondeu voltando a agir como um mero órgão anatômico se blindando contra qualquer coisa que se aparentasse com aquele sentimento. Um pouco covarde da sua parte, admita! E por muito tempo me fez acreditar que jamais poderia sentir aquilo por outra pessoa novamente. Até agora...

Foi numa quinta-feira, no lugar mais inabitual, que você acordou do sono profundo de aproximadamente dez anos quando a viu entrar por aquela porta. Desta vez eu e você fomos pegos de surpresa porque por essa nem eu esperava. Sei que ficou confuso porque já fazia muito tempo desde a primeira vez, mas aquela sensação da qual sou incapaz de descrever veio com força te fazendo lembrar-se de sua outra função: Amar. Por conta da sua teimosia, eu já não me lembrava do que era isso, não sabia se ainda era capaz de sentir algo tão intenso e verdadeiro. Senti medo, claro, pois você pode ser tolo, mas não erra os batimentos por qualquer um.

E lá estava você de novo todo cheio de expectativas praticamente implorando para que eu me entregasse. E eu, inocente, decidi ouvir ao seu chamado, mas por quê?! Talvez porque você seja um maldito traiçoeiro por me fazer de tola, pois é desse jeito que me sinto toda vez que me lembro do quão idiota você é por se apaixonar sem nem antes me dar à chance de me envolver com alguém.

Mais uma vez expectativas foram criadas, imaginei momentos, compus poemas e senti a adrenalina percorrendo minhas veias quando me declarei porque dessa vez tive o seu apoio... Mas tudo isso para que?! Para vê-lo desolado de novo, frustrado pela falta de um retorno seja ele positivo ou não. Para senti-lo retraído todas às vezes que a via online e não entender porque não respondia às minhas mensagens. Para vê-lo flagelado pela indiferença da resposta dela: “desculpa, me esqueci de te responder”. Sei que sua inconstância te define, mas sua integridade jamais merecia ser esquecida. E eu sinto muito por isso.

Aparentemente as pessoas confundem responsabilidade afetiva com reciprocidade quando na verdade é uma questão de honestidade e respeito. É sobre não machucar o coração do outro, é sobre ser real. É ter a consciência de que aquilo pode não significar nada para você, mas pode significar muito para o outro.

Meu receio é que eu perca a fé no amor, que você me abandone por não compreender os sinais do universo, pois até quando essa história vai se repetir? Até quando preciso aprender lições para finalmente ser correspondida? Às vezes tenho a impressão de que você só gosta de ficar nessa busca por algo incerto, de viver fantasias para compensar sua falta de criatividade. Ajudaria se eu fosse uma verdadeira escritora então, apenas pare.

Para ser sincera ainda estou disposta a insistir, a deixar meu orgulho de lado, mas ao mesmo tempo estou cansada de te fazer sofrer, de te trazer angústias que não me deixam dormir à noite, de implorar para que a dor vá embora. Embora eu aposto que você também está farto de cumprir tantos papéis ao mesmo tempo quando poderia apenas continuar atuando como uma simples bomba de sangue. Eu não quero que você se feche como da primeira vez, não quero que sinta medo de se arriscar, só desejo que da próxima vez que sentir isso que seja pela pessoa certa, por alguém que valha a pena vê-lo saltitar em meu peito.

Está na hora de superar mais uma história vivida apenas em minha mente.

Giulianna Loffredo
Enviado por Giulianna Loffredo em 04/02/2020
Reeditado em 11/02/2020
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