Um desabafo (des)necessário.

Geralmente não me deixo escrever sobre assuntos polêmicos e nem me deixo cair na tentação de escrever textos de significados meramente denotativos e informativos aqui. Acho que o cotidiano na academia já me limita muito a esse mundo de causa e efeito e análises de seus fenômenos. Mas na verdade é muito difícil simplesmente ignorar algumas alfinetadas, pois se tem um erro em mim que eu jamais consegui corrigir é me importar demasiadamente com a (deveria ser) irrelevante opinião alheia.

Cada um tem uma motivação para escrever. Alguns realmente tem “um talento” natural pra isso. Pegou gosto desde criança. Outros escrevem para se libertar, outros para sentir-se ouvidos e outros meramente por amor. Eu me enquadro na última. Não necessariamente o amor pela escrita – na escolha a matéria que eu mais detestava era gramática e acho que isso fica claro no meu português ruim e jogo de palavras limitado. Mas por sentir em mim um turbilhão de sentimentos que, na maioria das vezes, é mal interpretado ou simplesmente não aceito pela maioria das pessoas. Também escrevo para não me sentir só quando tenho saudades de pessoas que se foram. É o meu jeito de me mostrar sem ser exposto, de falar sobre minhas ideias e conflitos. Amores e paixões. Minha escrivaninha é meu diário. Representa cada emoção que eu sinto de acordo com o dia em que escrevo. Mas das duas uma: ou eu escrevo realmente muito mal ou há algumas pessoas com sérios problemas de interpretação de texto.

Sou o tipo de pessoa que não se sente bem em intimidar, ferir ou escarnecer. Acho que o mundo já tem disso demais e me sinto na obrigação de fazer diferente. É verdade que a minha conta é anônima e ninguém na verdade sabe quem eu sou. Mas isso não é porque eu uso isso a meu favor ou digo aqui coisas que não tenho coragem de falar pessoalmente. Apenas acho que as aparências mudam nosso julgamento e por isso prefiro não aparecer. Em breve publicarei uma crônica exatamente sobre isso.

É ridículo viver julgando as pessoas pelo que elas tem de pior e fechar os olhos para as qualidades. É medíocre. Medíocre não, de uma baixeza intelectual extrema. Já temos isso demais no mundo, obrigado! Amo ver o que há de melhor em cada um e isso eu quero explorar.

Mesmo mantendo o anonimato eu sei que é essencial saber que cada ação gera uma reação e que o mundo está em constante movimento. Quando você resolve publicar – tornar público – um texto ou qualquer outra coisa, você está concordando em lidar com a opinião alheia sobre aquilo, inclusive com interpretações deturpadas do que você faz. Então o ideal é que, se você não se sente pronto pra isso pense duas vezes antes de publicar algo. Sempre haverá alguém que não concorda com você e isso é perfeitamente natural. Se você não souber conviver com isso estará pra sempre condenado a sobreviver dentro de uma bolha de sabão num planeta cheio de cactos. Tudo vai lhe incomodar, tudo vai lhe ferir e você irá viver culpando o mundo quando na verdade o erro é seu em não saber lidar com a opinião do outro. Isso não tem a ver com conhecimento ou carga literária, muito menos com idade. Tem a ver com maturidade. Quem não sabe conviver com opiniões diferentes com certeza é um preconceituoso sem precedentes. Espreitando a cada momento alguém lhe estender a mão para poder acusa-lo do que você é em nome do próprio ego. Pobre criatura. O outro problema são as pessoas realmente mal-intencionadas, que querem deliberadamente te ferir para sentirem-se superiores, fortes. Vestem uma armadura de “durões” em cima da imagem que passam na internet ferindo o sentimento alheio. Esses sim são dignos de pena. Ao primeiro sinal de discordância, mesmo saudável, tentam calar a voz dos que discordam. Uma atitude no mínimo extremamente ditatorial. Bem, a vantagem disso é você pode não querer ouvir alguém, mas isso não calará a voz dela. Sabe aquele papo de "não concordo com o que você diz mas farei de tudo para que você possa dizer"? Então, eu sou desses. Viva às diferenças.

No mais, é importante sabermos reconhecer os dois tipos de indivíduos para não julgar e acusar deliberadamente os outros sem motivos. Nossos atos geram consequências e o sentimento alheio não é brinquedo não.

A verdade é que uso meu espaço no Recanto para me ajudar e ajudar aos outros. E o mais importante: Um comentário amigo, um bom dia ou um pequeno incentivo não quer dizer que eu estou te chamando de necessitado, nem de desamado ou expressando pena. Se tem uma coisa que eu sou é sincero. Sempre fui e serei, pois é assim que gosto de ser tratado. Com firmeza e sinceridade. Me rodeio de pessoas assim, pessoas espontâneas independente de cor, gênero, classe ou ideologia política. Mas se tem uma coisa que aprendi é que nem todos aqueles que dizem exigir sinceridade estão prontos pra isso. Um ser sincero tem uma dificuldade incrível para dialogar e encontrar soluções diplomáticas ao lidar com seres emotivos. Seres que carregam a própria culpa pelos próprios atos e acha que você está expondo-os sem nem sequer você saber do que eles têm medo.

Se alguém se importa em fazer com que você sinta-se especial ele não está depreciando as outras pessoas com as quais você se nivela, mas te mostrando que não há nível. Ninguém = Ninguém. Cada um tem suas peculiaridades e seu próprio brio e brilho, inclusive eu e inclusive você, caro leitor. Mas se você está acostumado com a falta de afeição a ponto de não conseguir enxergar dessa maneira, eu só posso sentir muito.

Acho triste que algumas pessoas insistam em sempre ver a coisa da pior forma. A situação como sempre trágica. Reclama da vida alheia, expressa sua indignação com a sociedade mas não faz muito mais além de reclamar. Se preocupa mais em repreender que em depreender. Sempre vê o copo quase vazio, espera a semana pela sexta e o mês pelo salário. Esquece de viver os meios que aos poucos se transformam em lacunas e depois em abismos. Entre si mesmo e a própria consciência. Sempre parecemos mais sábios ao ver as coisas de forma negativa. Mais críticos e inteligentes. Diferentes da maioria, parecemos não nos misturar na multidão. Mas só parecemos mesmo.

Para encerrar esse desabafo deixo uma frase de Renato Russo, Legião Urbana. A música é “Esperando por mim”.

“Digam o que disserem, o mal do século é a solidão, cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição.”

AçúcarMascavo
Enviado por AçúcarMascavo em 02/02/2020
Reeditado em 02/02/2020
Código do texto: T6856166
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