A Bíblia e o Casamento
Não gosto de abordar temas religiosos, acredito que cada um vive a sua própria fé e a interpreta como melhor considera, mas fato é que certas interpretações são inviáveis ou incompletas e servem para apenas uma coisa: justificar o injustificável. Hoje falaremos de assunto bastante importante baseados no livro sagrado do cristianismo, um assunto que deveria estar em discussão em todos os templos religiosos e que deveria ser abordado com a seriedade e honestidade que demanda: falaremos sobre o casamento.
No livro de Efésios (Novo Testamento), capítulo 5, dos tão conhecidos versículos 22 a 24, recitados por pastores e demais líderes, vociferado como verdade absoluta, há uma recomendação às mulheres: que se sujeitem aos seus maridos. Sujeitar-se pode ser compreendido como submeter-se a alguém. Os religiosos apregoam esses 3 versos como um incontestável mandamento que as mulheres devem seguir para que não mandem em suas casas, para que sejam obedientes ao maridos, fica subentendido que seria melhor que estivessem caladas. Mas a Bíblia não fala isso. Nesse capítulo em especial são dedicados apenas três versículos às mulheres, o capítulo continua, e dos versos 25 ao 33 a recomendação é aos homens. Parece que essa parte é desnecessária nos discursos, mas se é para ter uma vida baseada na Bíblia não vale pegar somente o trecho que convém.
No verso 25 está explícito: “vós maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela”. O capítulo prossegue e diz que aquele que ama a sua esposa ama a si mesmo “porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne, antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja” (verso 29). A Bíblia é muito clara ao determinar que o marido tenha com sua esposa o mesmo zelo e cuidado que Cristo teve pela igreja. Se os homens devem amar suas mulheres como Cristo amou a igreja então deveriam se dispor a morrer por elas porque Jesus, por amor, morreu pela igreja. No entanto, ao invés de morrerem por elas, muitos homens as matam, mas isso não parece ser tão importante quanto silenciar a mulher que apenas deseja ser ouvida em suas vontades.
O homem não é mais do que a mulher, quem se usa da fé para justificar o contrário é um provável charlatão, mas quero pensar que seja apenas um ignorante no sentido de ignorar aquilo que se é explícito.
Nem a mulher é superior ao homem, a Bíblia os iguala, diz que ambos, no ato do matrimônio, formam uma só carne, assim sendo precisam viver em acordo, em união, em consentimento. A vontade de um não deve prevalecer sobre a do outro, ao contrário, é necessário que cheguem a um consenso, que se esforcem por isso uma vez que conviver não é fácil, é um desafio que precisa ser vencido em conjunto. Mas, pelo que parece, muitos preferem o caminho mais fácil e mesquinho frisando que a mulher deve ser sujeita ao marido e ignoram que o marido deve amar sua esposa. Você sabe o que a Bíblia fala sobre o amor?
Vamos ao primeiro livro de Coríntios (Novo Testamento), no capítulo 13, verso 1: “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o metal que soa ou como o sino que tina”. Na Bíblia que estou usando, traduzida por João Ferreira de Almeida, há uma nota de rodapé que explica que “caridade” também pode ser lida como “amor”, portanto, a Bíblia diz que amor é caridade e nos versos 04 ao 07 a caridade é apresentada como “sofredora, é benigna: a caridade não é invejosa: a caridade não trata com leviandade [qualidade leviano, imprudente], não se ensoberbece [tornar soberbo, orgulhoso], não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.
Ainda é possível colocar a mulher em posição de inferioridade? Se ela deve se sujeitar ao marido, o marido deve suportá-la e não buscar pelos seus interesses porque deve amá-la, e amor é caridade, e a caridade tudo suporta. Ambos devem se sujeitar, devem se amar, devem se suportar a fim de vencerem.
Além de marido e mulher são filhos de Deus, irmão pela fé, e Jesus bem recomendou: “amai-vos como eu vos amei”. Não dá para amar humilhando, maltratando e matando. Parem de fingir que não entenderam, parem de tentar distorcer o sentido das coisas, não sejam hipócritas, eles são desprezados por Deus. Para que o seu casamento sobreviva ele precisa ser sustentado por ambas as partes, mas quando uma se sobrepõe em detrimento da outra acaba-se o equilíbrio, extingue-se o amor e aí nada vai bem. Saibam conviver, coexistir, ninguém precisa subir em ninguém para que sobreviva, um ao lado do outro chegarão aonde precisam.