Quando as Memórias se Extinguirem...
Há poucos dias tive o prazer de assistir ao filme disponibilizado pela Netflix “Viver duas Vezes” (2020), uma história que, resumidamente, conta sobre o processo de enfrentamento que um professor universitário de matemática trava contra o mal de Alzheimer. Acompanhamos, então, sua aproximação com a família, em especial com a neta, e a sua busca repentina por um amor adolescente. É um filme que vale muito a pena assistir.
Dessa obra tão bem planejada e produzida, com um enredo magnífico e uma mensagem ainda mais inspiradora, tirei algumas reflexões, mas a mais importante, a que quero compartilhar com todos vocês nesse texto, é sobre o quanto somos frágeis, o quanto estamos vulneráveis aos males que a vida pode nos apresentar ao longo da caminhada, o quanto corremos o risco de deixarmos de ser aquilo que somos e fomos.
Talvez, não sabendo se estaremos ou não livres dessa dificuldade, um dia nossas lembranças se esvairão e já não teremos condições de armazenar novas informações. Talvez chegue um dia no qual nos sentiremos estranhos dentro do nosso próprio corpo enquanto nos olharmos no espelho. Talvez chegue o dia no qual nos sentiremos confusos andando pelas ruas que tantas vezes trilhamos. Talvez chegue o dia no qual o nome das pessoas que amamos não significarão coisa alguma, talvez nem mesmo o nosso nos diga alguma coisa. Talvez chegue o dia no qual as memórias se apagarão.
Mas há algo que não pode se perder.
Algo que não se resume a ser decodificado por simples sinapses realizadas dentro de nosso cérebro e armazenado em regiões específicas que irão se deteriorar com o tempo.
Há algo que o responsável por manter vivo é o coração. Não esse que bate em nosso peito. Refiro-me à alma, onde está a nossa essência, aquilo que somos, aqueles que amamos.
Se assim precisar ser, se chegar o dia no qual perderemos a capacidade de pensar, de rememorar, de registrar, que ao menos tenhamos o privilégio de manter o amor que amamos, o amor pelo qual fomos amados. Que as pessoas à nossa volta nos contem histórias maravilhosas que viveram conosco, que se emocionem olhando nos nossos olhos, tendo a noção de que de nada nos lembramos, mas com a certeza de que ao nosso lado foram felizes. Façamos o possível para que quando o esquecimento chegar ele seja apenas nosso, mas que aqueles que conosco vivem não deixem morrer em seus corações, em suas recordações, tudo aquilo que a eles significamos, representamos e doamos. Mas isso só será possível se compartilharmos amor, é ele quem nos eterniza.