Os pensamentos podem me condenar e me engolir: as dores de quando o sentir extrapolam os moldes físicos.
Estamos num papo ótimo, até que a mensagem enviada no whats app não chegou até o destinatário. Eram 22h03min. 22h09min mais uma tentativa. A janela do aplicativo começou a ser vista com insistência, temor, angústia, tremor, suor frio, até que percebi que os pensamentos haviam extrapolado. Cerca de 20 minutos, até que às 22h24min uma mensagem de sonoridade distante chegou. As sensações pioraram. A cabeça maquinou tantas coisas e o coração doeu. Doeu pelas possibilidades, não o real. Talvez esse eu nunca venha a descobrir, porque ele nem pode existir.
Tem um contexto. Morar com alguém com quem já se "ficou", "transou", "tocou a carne", "compartilhou calores e suores", "fluídos", e era só nisso que minha mente perdida em si mesma conseguia pensar. Em 20 minutos se fazem muitas coisas, ela pensou.
A tristeza pairou. Lembrei dos outros, da figura de referência, do sofrimento materno, dos meus pares e meu, por conta dessa questão.
As pessoas deixam marcas, profundas... Nós ficamos marcados.
Eu penso ser a materialização da racionalidade. Pensei na hora"Ele só está banhando, ou o sinal da internet está ruim, ou mesmo quem sabe o celular descarregou", mas as outras possibilidade me dominavam. Imaginei cenas, toques, vozes e tudo o que queria era destruir esse fantasma, dominá-lo e mandá-lo para o raio que o partisse.
Confiar, para mim, ficou tão mais difícil. Eu rolei de um lado para o outro, ouvi músicas, assisti filmes, li livros e os pensamentos ao lado, sentados na cadeira, tomando uma taça de vinho, rindo porque sabiam que estavam conseguindo me perturbar. Eles enxergavam no meu olhar e na forma como meu corpo tremia, por dentro, pulsando, sentindo seus efeitos.
Eu tentava racionalizar. Ele pelo menos me disse a verdade, verbalizou a saudade diversas vezes, trocamos íntimos diálogos, compartilhamos sonhos e fragilidades, ele deitou na minha cama, trocamos carinho, trocamos olhares, verdades e toques que não senti de outros. ele cuida de mim, se preocupa, demonstra, sem medo, sem receio.
E eu vivi a vergonha, por pensar esses pensamentos, por sentir as sensações, por viajar nos trânsitos do pensamento.
Eu senti frio, que veio de dentro para fora.
No fundo eu só não quero me machucar, sabe? Decepção, alias. Porque da última vez magoou e levou fora uma parte de mim. É esse o medo, de me despedaçar mais uma vez, de sentir o coração sufocar, de doer.
A música toca e me deixa num profundo pensar. Eu me debato com os pensamentos. Tento domá-los, mas ele sabem meus pontos fracos.
Eu acordei e lá estava um "Bom dia meu bb", mas que não me soaram como das outras vezes, porque eles ainda estavam ali, do meu lado.
Eu me resguardei. Desliguei o celular e fui dar espaço para o cara à cara. Vamos, não querem uma batalhar? Vamos lá.
Peguei meus livros, olhei pela janela a chuva, ouvi a música, senti o vento frio. A garganta apertada e os olhos sentindo as vibrações da correnteza que estava pedindo espaço.
Não tem a ver com ele, que tenta me dar "segurança" de várias formas.
Tem a ver comigo! Esse passado, as projeções, minhas posturas frente ao vivido, as expectativas, tudo.
O celular desligado. A garganta apertada e a correnteza, leve, delicada e sútil.
Aos poucos vou enfrentando. O vinho dele acaba, o sorriso sessa, e ele vai sumindo, pra longe. Eu me recomponho, aos poucos, mas vou tomando conta de mim. O coração desacelera, a respiração ameniza, a turbulência vai de minimizando.
Vou tomando conta de mim.
Eu tenho minhas qualidades, não? Tenho meu valor e quem quer que seja precisa mensurar o quando isso basta. Mas não entrarei nesses méritos.
Eu preciso de ajuda, antes que eu me perca, troque os pés pelas mãos, ate nós que me sufocarão aos poucos, até me fazerem sucumbir, em desprezo e perdição. Preciso expelir e reorientar. Eu só quero que dessa vez dê certo. Sei que existe o "talvez" e os outros "50%" de chance do "não". Mas vou aproveitar o que for bom. No final, de qualquer forma, posso tirar proveito, pois posso aprender. Foi assim nos outros processos e sempre me reergui, pois a força que há em mim é forte e potente.
Obrigado! Foi bom partilhar com você.
E lembro que escrever é se despudorar e ficar transparente para outros. É mostrar nossas fragilidades e forças. É sucumbir em aberturas.