Nada é indolor
Eu que sempre tenho tanto tato, sempre tão covarde, numa falta de coragem para ser feliz.
Eu que sempre queimo minhas paixões por dentro, sempre me perdendo de mim, deixando o amor enlouquecer os outros, nunca a mim.
Eu que sempre argumento bons motivos, que sempre delineio uma linha entre alegria e dor, eu que sempre salivo afagos, mas não deixo onda alguma me atingir.
Eu que sempre falo sobre virtudes, mas também sempre tão bagunçada, eu que sempre repito o sempre, numa rotina cansada, de olhos baixos e humor fraco.
Eu que não suporto dias de sol, que não aguento o peso da minha ansiedade, que caminho sem saber aonde piso, que amplio sem querer, o vazio dentro de mim.
Eu que sou impossível, que sempre escrevo por covardia, por não saber verbalizar tudo o que está preso em minhas artérias.
Eu que detesto romance porque o fim sempre é instantâneo, ou é clichê demais.
Logo eu que sempre me preocupo se algo pode me machucar, mas como que eu vou viver, se não aceitar, que nada é indolor?