Minha chama
Eu já percebi que quando as pessoas nos perguntam como estamos, elas não querem saber como realmente estamos. Não de verdade. Por isso, não costumo falar como realmente estou, nem mesmo para aqueles que sei que posso confiar.
Todavia, nem sempre consigo ser tão boa atriz, já que sou muito transparente. Quando uma pessoa me perguntou como eu estava, eu respondi automaticamente: “estou como a chama de uma vela, fraquinha, quase apagando”. A pessoa ficou surpresa por uma resposta tão sincera e me abraçou, fazendo carinho nos meus cabelos, me dizendo que aquela sensação iria passar. Eu acreditei.
E passou. Pelo menos, um pouquinho.
Mas voltou quando fui ao quintal e fiquei observando o céu escuro, nublado, com tons de cinza e violeta. Estava lindo. Uma imensidão que me assustou. Eu me senti tão sozinha comparada aquela infinitude do céu. Mas também muito grata, porque apesar de eu ser tão insignificante, tinha a oportunidade de observar aquele céu tão lindo. Grata a Deus por me permitir ser eu, mesmo com a sensação de que algo ainda me falta.
Ali me dei conta de que tenho vivido em uma solitude jamais pensada, a princípio muito confortável, mas que agora talvez me incomode um pouco, não a ponto de querer mudar isso. Sou uma mulher de quase 25 anos que já nasceu com a ânsia de ser intensa, de viver, de experimentar o mundo, mas que parece que se perdeu no caminho. Não segui padrões que se espera para alguém como eu e está tudo bem. As vezes não acredito que já tenho essa idade, eu ainda me acho tão nova, tão inexperiente. Isso me consola, me conforta, me reacende.
Não escolhi está só, mas nunca precisei estar só como agora, em que preciso descobrir quem sou. Se isso faz sentido, não sei. Entretanto, prefiro estar só, por enquanto, alimentando a minha chama.
Hoje não é um dia nada especial, contudo, algo dentro de mim esteja renascendo, sendo ressignificado. Isso é muito bom, gratificante.
Cada um queima de uma forma. Esse é a minha chama.