Pertencer

Certo dia, alguém olhou-me profundamente nos olhos e contou-me, que o ser humano pela natureza de sua índole necessita ter, necessita pertencer a algo ou alguém.

E, que em determinado momento, ao despertar de seu mero autoconhecimento, este teria a urgência inegável de pertencer.

Com o passar dos anos, de minha curta vida, eu tenho procurado em mim, meus lares, e meu desejo de ser.

É como a fome humana que possuo desde que me entendo por gente. De algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada. Eu não era nada.

Exatamente porque este sentimento em mim é tão forte, que eu me cansei de mediocridades, eu me cansei de ser apenas; o nada, eu preciso sentir, eu preciso ser, minha alma tem sede, meu corpo tem pressa.

Entretanto acredito que no final, eu só tinha vergonha de dizer o quanto eu sou necessitada, o quanto sou miserável. Sim. MI-SE-RÁ-VEL. Eu não sou nada, por isso, não tenho nada a oferecer. A única coisa que me resta, a única coisa que eu possuo em mim. Minha alma.

E então percebo, o quanto estou exausta em ter apenas uma alma.

Eu queria poder ter algo a oferecer. É como passar horas cozinhando um banquete, para no fim, sentar-me à mesa só. Não ter ninguém para dividir o pouco de vinho que ainda resta. A alegria que ainda resta. Então prometi a mim mesma, jamais fazer um banquete com meus sentimentos e deixar que os outros se sirvam.

Foi por estas e outras que senti a solidão me invadir, como o sol invade minha janela ao amanhecer. Me tornei submissa a minha solidão em não ser.

Acho que foi por isso que me encontrei nas palavras, de alguma forma, escrever me fez sentir como se, mesmo que de forma apócrifa, eu pertencesse a mim mesma.

Pertencer não é só ter algo para chamar de seu, ou reconhecer sua fraqueza e se unir a algo ou alguém, pertencer vem da mista vontade de ter minha força própria e ainda sim, pertencer para que minhas forças não sejam em vão, e sim para que elas possam fortalecer alguém ou algo.

Exatamente quando ponho as palavras no papel e sinto que outras pessoas, assim como eu, com a fome de ter mais que uma alma, com a vontade de pertencer, consigam se fortalecer, então juntos pertencemos a nossa própria união.

Então, agora eu percebo que eu sempre pertenci, não a algo ou alguém como pensava eu, com minha doce imaturidade, de costume. Hoje eu entendo, eu sei, que pertencer não é nada mais nem nada menos que: viver.

Alanna Liz
Enviado por Alanna Liz em 18/01/2020
Reeditado em 28/10/2022
Código do texto: T6845108
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