Sobre viver
“Viver é um rasgar-se e remendar-se”, como disse Guimarães Rosa. Isso é a vida. Sim. A morte, talvez, seja somente um rasgar-se. Ou um eterno remendar-se, dependendo do ponto de vista. Ou melhor, da vista do ponto.
Mas, o que tem no meio? Exatamente no meio? A gente estabelece o binômio “vida” e “morte”, mas e o ponto de intersecção? É como se essa coisa que engloba a minha existência - tanto no âmbito individual quanto no coletivo - fosse pautada no começo e no fim. Sim, eu sei que o viver é o durante, mas o que é mesmo viver?
Estar nessa loucura de entrar no mercado de trabalho cedo, fazer lucro, passar em concursos, formar - ou não - uma família, adquirir a casa própria, etc. Dá mesmo para viver no capitalismo? Ou você acha que viver não necessita de advérbios de modo: bem/mal? Um viver por si mesmo? Estranha ideia para mim.
Viver não é só isso que está rolando, sabe? Guimarães foi, apenas, um gatilho para o meu texto. Desconexo, parcial ou totalmente, estar em vida ultrapassa respirar, trabalhar, descansar, reiniciar o sistema em pane. Viver supera a sua intransitividade de “ter a vida” e assume a faceta transitiva direta: aproveitar o que há de melhor. Incorpora, também, a indireta, no que tange a alimentar-se, nutrir-se: viver de amor, de busca pela sabedoria, de harmonia, de consistência, ainda que haja infinidade de insolidez.
Viver é, sim, desencontrar-se e reconhecer-se por meio das cicatrizes deixadas pelo tempo, pelas histórias cruzadas. Porém, sobretudo, conota mergulhar em um mundo de emoções, liberdades, tomadas de consciência para a construção do bem comum.
Afinal, o que é viver? Inúmeras formas de se enxergar e de se compreender. Deixo a minha néscia perspectiva: viver é uma eterna amarração e desamarração. Acho ótima essa concepção!