Protagonista
Nunca me considerei escritora. Não acho que seja uma. Escrever para mim sempre foi uma forma de esvaziar, de tentar lidar comigo mesma, de expressar toda a criatividade para inventar vidas muito mais interessantes que a minha, que parece muito comum.
No entanto, me ocorreu hoje, após ler um livro, que talvez essa minha insegurança sobre a escrita seja medo de que eu não vá adorar a escrita tanto assim se tentasse fazer disso algo que realmente quero fazer. Claro que já pensei em escrever, afinal é o que gosto de fazer, mas sejamos realistas: na maioria das vezes você não pode fazer o que gosta, mas o que precisa fazer para se sustentar.
Além disso, sempre que leio um romance, eu penso: “nunca que eu criaria isso”, “não há como eu ter essa sensibilidade”. Tenho a mania de achar que não sou boa o suficiente. Uma verdade cruel é que sou incapaz de criar minhas histórias porque me vejo como personagem secundária da minha própria história. E a constatação desse fato me entristece. Será que estou condenada a ser a filha perfeita, a amiga querida, a peça que agrega na história dos outros?
Não posso aceitar que o meu valor só existe por aquilo que acrescento na vida dos outros. Só tenho uma chance, essa vida, e nesse momento só posso encontrar o meu valor sendo útil para os outros. Todavia, como posso ser útil para mim? Há tanta intensidade em mim que me recuso a ser só uma peça na história dos outros, mesmo que os amem muito. Eu preciso ser a protagonista da minha história. A heroína de mim mesma, pois ninguém vai fazer isso por mim. Tomar as rédeas da minha vida e fazer dela extraordinária, mesmo que para mim mesma.