Deixe-me Dormir
Eu gostaria de deitar, adormecer lentamente e ter aqueles sonhos bons que embalam algumas das minhas noites, eu gostaria de não precisar acordar mais, de viver um sonho após o outro, e eu sei que isso é complicado, seria um tipo de não existência, mas é o que eu sinto que preciso, não existir por alguns anos, porque pelo menos na minha cabeça, eu sou digno de muitas coisas, lá eu tenho quem eu amo, eu tenho um bom emprego, eu ajudo minha família, eu ainda faço as coisas que eu amo, como andar de skate, desenhar, pintar, compor músicas, e aqui, aonde estou no momento, eu não faço mais nada, a realidade já não me satisfaz, não enche meus olhos, não faz meu sangue ferver e nem me bota um sorriso no rosto.
Eu gostaria de retornar ao meu eu criança, não ligar para quase nada, ser inocente, pedir um belo sorvete de morango e me deliciar, sem medo, sem preocupações.
Eu gostaria de chegar em casa, morrendo de sono, e sentir vontade de acordar no outro dia, sabendo que meus amigos estariam me esperando na rua, para jogar bola, correr, cair, gritar, brigar e depois se reconciliar.
Eu odeio não sentir a euforia de querer acordar cedo, pôs tem um dia lindo me esperando, eu odeio ver que meu lado artístico está sumindo, que o verde das árvores está opaco, que o dourado do sol, já não brilha tanto, eu odeio olhar para o céu a noite e não sentir o ânimo de olhar as estrelas, de me questionar perante o universo, eu odeio ter chegado aqui, aonde a única coisa que eu vejo, é um homem sentado na beirada de um abismo, sem saber o que e cima ou baixo, já que tudo está escuro, ele não sabe se já caiu ou se vai se jogar.
Nesse momento, eu estou apagado, vivendo sem respirar, afogado em um mar de indecisões e arrependimentos, e essa água negra de coisas ruins, todos os dias quando acordo, invade meu corpo, e isso me faz perceber uma coisa, se algo desse tipo me invade, significa que eu estou vazio, e estou tentando me completar com o que está mais perto, e nesse momento, o mais perto é o canto escuro do meu quarto, que me parece mais convidativo do que a lamparina que se apoia encima da mesa.
Estou cansado, e por alguns dias, eu vou me sentar lá, naquele cantinho obscuro e denso, quando me acostumar com a dor, eu vou voltar, bom, assim eu espero, voltar algum dia, e brilhar como já brilhei um dia, eu assim espero que, o brilho do sol, as estrelas e a lua, façam sentido novamente, então por favor, deixe-me dormir.