O que é liberdade, limites, excessos e paradoxos da liberdade de expressão

A liberdade é o poder que um indivíduo tem sobre si mesmo, fundamentalmente. Além desse limite se torna um excesso de liberdade e que pode resultar no ataque à liberdade alheia.

Das liberdades, a que mais tem destaque em sociedades superficialmente democráticas é a de expressão. Parece até maliciosamente providencial já que é sua forma mais básica, enquanto que as outras são frequentemente negligenciadas, por exemplo, o direito à autonomia ou liberdade econômica. Para isso, bastaria que todos pudessem estar empregados, felizes em suas profissões, estabilizados, produtivos, bem remunerados, e se empregadores, responsáveis ou conscientes...

Sim, a liberdade é sinônimo de felicidade, de saúde. A doença, por exemplo, já corresponderia à manifestação mais intrínseca da diluição de autonomia do indivíduo em relação a si mesmo, isto é, de sua liberdade.

Se vivemos em sociedades estruturalmente parasitárias, então, não existe tal coisa como respeito à [verdadeira] liberdade individual//econômica.

Em relação à de expressão, se a liberdade apetece fundamentalmente ao indivíduo, então, também pertence a ele a responsabilidade de exercê-la com respeito, dentro de uma coletividade, pela negociação constante com outros indivíduos, a priori, iguais em direito e dever. Claro que não são todos os grupos merecedores de igual consideração, até porque muitos violam essas regras básicas, mas isso seria um assunto mais específico para um outro texto.

Fazer ''piada'' com um ou com ''todos''??

Para evitar hipocrisias ou contradições, a liberdade de expressão, IDEALMENTE, precisa ser negociada e, no caso do humor, tendenciosamente igualitária em sua prática. Por exemplo, ao se fazer "piada" com uma religião/mitologia, e com alcance público, haveria de fazê-lo/também com outra[s], com ateus... como demonstração de que não tem alvos preferenciais.

Também percebo que a liberdade de expressão tem sido hegemonizada por humoristas e, então, reduzida ao "direito à ofensa", perdendo seu potencial de se manifestar como um ato de civilidade, de real tolerância, de fluxo de ideias, pensamentos, visando o melhor julgamento.

Diferenciar verdades ''inconvenientes' de ofensas, por exemplo, é uma necessidade óbvia. Mudanças no modo de expressá-las são altamente requisitadas, que é menos imprescindível no caso do humor. E não é questão de eufemismo, mas de precisão mesmo, já que a ofensa é uma intrusão emocional ou subjetiva sobre a comunicação objetiva.

Eu continuo com a conclusão de que se pratica a liberdade de expressão com base no conceito indefinido de liberdade, quase sempre interpretado como "o direito à ofensa" [ou ''ofensa''] e/ou de ''fazer o que quiser'', e não por seu conceito mais coeso, como poder ou autonomia individual, e consequente responsabilidade. Determinamos a liberdade por sua expressão mais básica que, por um lado, diferencia sociedades variavelmente democráticas de sociedades claramente autoritárias, mas, ao nos mantermos focados apenas nela, nos esquecemos das outras, fundamentalmente importantes, abrindo espaço para o domínio de outros autoritarismos, como o "liberalismo" econômico.

Pois em uma sociedade ideal, todo indivíduo seria plenamente racional e, portanto, apto para tomar as melhores decisões, não apenas em relação a si, mas também em relação aos outros. No entanto, este cenário está bem distante porque o ser humano, tipicamente, é mais subjetivo do que racional ou ponderado. Até podemos concluir que, em ''nossas'' sociedades, uma minoria de indivíduos pertencentes às elites ultrapassam os limites de suas liberdades de modo caracteristicamente intrusivo aos espaços existenciais ou potenciais de uma maioria de indivíduos pertencentes às outras classes sociais, especialmente às das bases. Reforçando, novamente, a disparidade de interpretação do conceito de liberdade econômica definido por liberais e o conceito mais coeso para a liberdade, aqui proposto.

[Uma solução alternativa ao paradoxo do humor quanto à liberdade de expressão seria por uma maior centralização no tipo auto-depreciativo.]

Por que o respeito ao indivíduo, primeiro de tudo??

Por se consistir na primeira identidade, na identidade universal, na mais verdadeira de todas. Pela moralidade mais evoluída, compreendemos e aceitamos que existe apenas uma vida pra ser vivida, que somos todos essencialmente iguais, condenados ao mesmo destino final, que desavenças e divisionismos empalidecem diante deste hiperrealismo, que precisamos lutar por nossas liberdades, aprender a respeitar às dos outros, que passamos a tratar como a nós mesmos, e, que coletivamente, precisamos aprender a maximizar segurança e alegria ou liberdades, a partir do conhecimento ou sabedoria.

Mais um Thiago
Enviado por Mais um Thiago em 10/01/2020
Reeditado em 11/02/2023
Código do texto: T6838496
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