AGORA
O momento presente, com seu conteúdo sobre o que estamos fazendo e o que está acontecendo ao nosso redor é a nossa vida, e precisamos estar completamente aqui imersos na experiência, sem distância entre nós e a vida cristalizada agora.
O mistério da passagem do tempo, sem termos negociáveis, com a única opção de aceitá-lo, nos segue por toda a vida e se mostra em momentos inesperados em nossa expressão física envelhecida e no desgaste das coisas ao nosso redor.
A grande questão da nossa vida é como aceitá-la. Como podemos aceitar o envelhecimento e a morte e ainda viver com algum grau de alegria? Sem sucesso, em meio aos empurrões de nossa vida diária, tentamos afastar esse pensamento importuno que continua voltando.
A imagem falsa da vida humana refletida na capa de revistas com rostos novos e belos, nunca cansados e desgastados pelo tempo, não prenuncia a tarde e a noite de nossa vida, que sem dúvida têm tanto significado quanto a manhã, ou, mais profundidade e ressonância do que nossa juventude, por termos vivido até agora.
Essa avaliação superficial de nossa vida, por si só, não parece satisfatória se pensarmos dessa maneira, como pessoas distantes observando, medindo, avaliando, pois, não temos distância da nossa vida.
Ao dizermos “minha vida”, queremos dizer as datas que eles escreverão nossos nomes quando morrermos? Ou, poderia isso ser algo mais?
O tempo parece se arrastar quando estamos alheados. Quando estamos preocupados, ou cansados, tentamos ficar de fora da nossa experiência. Muitos passam grande parte de sua vida enfraquecidos e enfastiados, sem enxergar o tempo, distanciados do momento presente, alienados de si dessa maneira, tendo como companhia apenas os ponteiros do relógio no qual cada número é substituído pela palavra agora.
Inquietar-se com o futuro é uma maneira de nos separarmos do presente, pois, pensar em quanto tempo temos para viver é uma maneira de não viver agora.
A hora é sempre agora. Nada aconteceu exceto agora. O momento de nosso nascimento era agora. “O bebê nasceu agora!”, disseram. O momento da nossa morte também será agora. “...morreu agora!”, irão dizer.
Neste ponto de vista, a realização da falta de vida pode ser o caminho para a profundidade que nos motiva a auferir o saber do coração.
É tempo, ainda, para refletir sobre o que nos prende no presente, considerando que se o fizéssemos com atenção plena em uma única e mais familiar palavra, essa palavra seria Amor.