Envelhecer

Gostemos ou não, estejamos preparados ou não, os anos se passam, a vida flui em velocidade que não conseguimos mensurar, os dias se findam, as noites nos encobrem e o relógio cumpre assiduamente com o seu trabalho. A juventude se vai, a velhice chega, é o ciclo natural da existência.

Entretanto, por mais que tenhamos essa certeza, por mais que saibamos que os anos passarão perante os nossos olhos sem qualquer cerimônia, desprezamos o envelhecimento, fugimos dele, fazemos todo o possível para que estejamos livres do fardo de ser velho, de ser visto como alguém sem nenhuma serventia. Cirurgias estéticas, alterações físicas e até maneiras de se comportar que escondam a verdadeira idade, muitas são as estratégias as quais recorremos para que a velhice não nos assombre. Mas é inútil. Podemos nos esforçar o quanto quisermos, podemos dedicar toda a nossa energia, a luta contra o tempo é uma causa perdida antes mesmo do seu início.

Nossa sociedade, pautada em tantos valores opressores, alienada a tantas visões cruéis, cultua exageradamente a beleza da juventude, o corpo sadio, a saúde invejável, o vigor interminável e vê a velhice como uma maldição, como um castigo, como o decreto do ponto final. Pejorativamente, despreza o velho, ignora-o, esconde-o no quartinho dos fundos ou o abandona em abrigos, esquece-se de que a idade avança para todos, a ninguém poupa, enquanto estivermos vivos o relógio permanecerá fiel à sua missão.

Ser velho não é uma maldição, um castigo ou uma irrevogável condenação. Ser velho não é o mesmo que perder a serventia e se tornar alguém sem função. Ser velho é uma bênção, é uma dádiva, alcançar a velhice é uma sorte que muitos perdem em nome de inconsequências da juventude.

Ser velho é ser sábio.

Sim, é gostoso ser jovem, é agradável ter completo domínio sobre as próprias pernas, é prazeroso comandar a própria mente, mas a verdade é uma só, a realidade não pode ser vencida, vamos envelhecer, vamos atingir a maturidade, seremos como os idosos que em muitas ocasiões evitamos, que em tantas situações menosprezamos, um dia estaremos na posição que eles ocupam, ansiosos por alguém que se disponha a ouvir nossas palavras.

Com o passar dos anos vamos conquistando vivências, enriquecemo-nos de experiências, adquirimos o conhecimento que não nos é proporcionado em escolas ou universidades, aprendemos sobre a vida, seus segredos, seus mistérios, concluímos que de pouco importam os falatórios, tudo se resume na brevidade de nossa passagem por esse mundo, na forma singular e despreocupada que devemos viver.

Ainda que jovens, com tanto a viver, com um longo caminho a trilhar, precisamos refletir sobre o futuro, quando nossas vidas passarão perante os nossos olhos como num filme e ao final seremos questionados: “valeu à pena?”. Viva para envelhecer, não de qualquer forma, mas bem, rico da sabedoria que só podemos alcançar abrindo os olhos a cada manhã e sendo quem somos, aceitando quem somos, avisados de que o tempo aparentemente abundante se reduz a poucos segundos quando mais queremos que ele se prolongue...