A Sua Manjedoura

Quem no natal nunca se deparou com as frases prontas “é tempo de refletir”, “esse é o momento de pararmos pra pensar no que fizemos e poderemos fazer no próximo ano” ou ainda “é um novo nascimento, mude”. Sai muito conveniente quando não se tem palavras para substituir um simples Feliz Natal! Mas, a reflexão é um botão que liga em dezembro e desliga em janeiro? Você pode listar atitudes e enumerá-las de acordo com as vontades alheias e não suas? Ou ainda, descarta todo o processo pelo qual passou e muda da água pro vinho? Isso parece mais uma máquina do que um ser humano, não? Tudo o que você escolheu e ao mesmo tempo deixou de escolher durante o seu ano faz parte da preparação do seu nascimento, a sua manjedoura. Como então descartar esses preparativos, essa construção do lugar que você irá nascer? Cada um possui sua própria manjedoura; algumas bem recentes, outras já foram preparadas várias vezes, umas bem confortáveis, outras bem bagunçadas, porém todas somente compreendidas por quem as preparou. Assim, se eu não sei como o outro preparou sua manjedoura não posso pedir ou desejar que mude, ou que pare, ou que faça tudo de novo, pule, volte atrás. Quando entendemos que esse nascimento, tão particular e tão variável, nada mais é que o resultado de nossa caminhada desensaiada e cheia de tropeços, consequentemente notamos que não há uma troca de vida, de personalidade, de desejos ou necessidades, porque essa manjedoura é sua alma e ela é insubstituível. O que deve haver nesse momento se chama contemplação. Se você deu o seu máximo ou não, foi responsável ou não, dedicado ou não, prudente ou não, etc. Você nasceu assim porque preparou sua manjedoura assim. Agora, irá organizar, melhorar, simplificar, agregar, do seu jeito, não para que sirva de exemplo para outros fazerem igual ou parecido, mas para que você possa nascer da sua maneira. Os três Reis magos não foram julgar, criticar ou intervir na manjedoura de Jesus. Foram contemplar seu nascimento, o nascimento daquele que viria pra salvar. Assim como nós todos os dias podemos nos salvar, perdoando, agradecendo, doando, compreendendo, ouvindo e ajudando. No fim, o que importa é isso, o nascimento, a salvação. Não quem você foi ou o que fez, ou o que você vai ser ou vai fazer. Contemple seu nascimento, admire o resultado e deseje o mesmo ao próximo. Bom nascimento e boa salvação!