R$ 3,8 bilhões.

Estamos próximos de encerrar 2019 e já, já teremos novas eleições, é a democracia. Recentemente aprendi que definitivamente não sei votar, é verdade! Foi agora por esses dias quando tomei conhecimento de que o Fundo Eleitoral foi aumentado de R$ 1.7 bi em 2018 para R$ 3.8 bi em 2020. Reajuste de 120%. Sabe quem foram os autores que promoveram essa lambança? Os Deputados Federais que nós elegemos, o meu e o seu inclusive. Pra que o meu representante cometa esse descalabro, é porque não sei votar. Se tivesse escolhido a pessoa certa, isto não teria acontecido. Será?

Aí alguém vai dizer: Cara, é muita grana!

Eu respondo: Tem razão! Será mesmo necessário tanto dinheiro assim para convencer a gente? Para os nossos pleiteantes não bastam os santinhos, e-mails, mala postal, cartaz de rua, pessoas portando bandeirinhas, chaveiros, canetas e some-se a isso seja lá o que for, carros de som nas ruas e palanques, por exemplo; para os candidatos à eleição ou reeleição são necessários também, matérias pagas em Jornal para amostrar seus "feitos" e ocultar os defeitos, entrevistas compradas às TVs com perguntas previamente aprovadas pelos assessores de campanha, blogs formatados para apresentar especificamente o perfil moral, ético e religioso do candidato, sites elaborados para enaltecer o relacionamento familiar e comunitário dos mesmos. Tá acompanhando?

As caravanas para circular nos bairros da cidade também demandam muita grana. O mesmo para os instrutores que assessoram os idosos nos aparelhos de ginástica instalados em praças públicas, e também os professores de danças e de ginástica para a terceira idade nas quadras de esporte público. Consegue perceber que eles agigantam a máquina, o que exige mais recursos, e tudo para nos convencer? E, detalhe, alguém tem que bancar tudo isso, quem?

Tudo bem, você vai dizer, por isso é que eu me ligo no que o postulante tem para dizer, e depois vai acrescentar: Se não me convencer com mostras de boa intenção e propostas realizáveis, nem adianta caravana, entrevista, santinho ou o diabo! To fora.

Aí eu vou estender a conversa e dizer o seguinte: Cuidado, amigo. Se ele não tiver conhecimento próprio para apresentar essas tais boas propostas, ele vai encomendar de um professor de economia, de filosofia... afiliado ao partido; qualquer um elabora uma ótima relação com muita competência, logo ele terá uma lista de atitudes a tomar e benfeitorias a propor como promessa de campanha, estas poderão ser ditas e repetidas ao sabor da necessidade, mas sem o compromisso de atender nenhuma. Quem vai obrigá-lo? Percebe a facilidade?

Se for para convencer o eleitorado eles contratam até soldados de milícias para incursão nas favelas exclusivamente para garantir votos, ainda que sob o manto da ameaça.

Leitor, você tem certeza de que realmente sabe como escolher o candidato certo para te representar? Eu tenho coragem de assumir que não sei, embora cumpra com a obrigação de eleitor. Sempre vou à urna depositar o meu voto. Claro que faço isso por causa da coação e jamais entrego um voto válido.

Então leia mais esta informação, você que sabe fazer boas escolhas:

O senso de responsabilidade é muito importante, porque faz com que o indivíduo fique realmente motivado e engajado a dar o seu melhor para alcançar resultados efetivos.

Veja o que diz a propaganda:

Você, nobre cidadão, que usa o computador, sabe lidar com a Internet e tem franco acesso à informação, não se furte à obrigação de votar no candidato de sua escolha, aquele cuja vida pessoal você já esmiuçou e constatou ser ficha-limpa. Há, sim, muito pilantra infiltrado, mas tem outro tanto de gente séria que por motivos óbvios merece o nosso voto, gente que quer fazer mudanças de verdade para ver este país crescer como deve ser. Se cada um de nós, privilegiados e bem informados, fizermos a nossa parte, fatalmente chegaremos aonde merecemos estar.

A propaganda no exemplo acima fez uso do senso de responsabilidade para argumentar ou contra-argumentar e motivar o eleitor a ir às urnas e opinar. Esse argumento por si só tem muita força e constrange. Com ele deveríamos conquistar nossos objetivos mais básicos, mas não é o que acontece, pelo contrário, a gente só perde. Tai os R$ 3,8 bi pra Fundo Eleitoral como prova. Quer evidência maior do que essa?

Os partidos políticos no Brasil não seguem ideologias, eles têm interesses particulares que invariavelmente se convergem em benefício próprio. O custeio individualizado de gabinete parlamentar é um, cujos recursos são utilizados em despesas com internet, aluguel de carros, combustível, locação de imóveis, IPTU. O projeto que criou esta aberração foi apresentado, deliberado e aprovado por aqueles a quem entregamos o nosso voto, mas eles decidiram isso sem nos consultar. Eu sou contra. A Verba de Gabinete, outra vantagem indevida criada pelos mesmos, é uma verba destinada ao pagamento de salário dos secretários parlamentares, funcionários que não precisam ser servidores públicos e são escolhidos diretamente pelos congressistas que se elegeram com o nosso voto. Cada um pode contratar até 25 funcionários, e o salário máximo pode chegar aos R$ 15.600. Lembra-se do Flávio Bolsonaro e a Verba de Gabinete? A população nunca foi consultada para dar seu parecer em relação à essa irregularidade. Nem tem porque, não aprovaremos mesmo.

Pois bem, mesmo que o eleitor queira acabar com essa afronta pública, pelo voto ele não consegue, porque não aparece candidato que defenda a extinção desses benefícios, esses e outros mais. Se aparecer um engraçadinho querendo afrontar os mandachuvas na liderança, logo será boicotado pelo próprio grupo e nem se eleger ele consegue. Isso quer dizer que, mesmo o postulante ficha-limpa, probo, do bem, que antes de ser eleito sempre condenou o vilipêndio infame por também ser um cidadão da sociedade, durante o processo eleitoral ele, na condição de pleiteante a um cargo, não vai aventurar se manifestar. Porque tem consciência da impossibilidade de fazer qualquer mudança efetiva. Aí, sem manifesto não existem propostas indevidas nem compromissos de campanha.

Você entra num jogo em que o adversário conhece marcas nas cartas que você ignora mas sabe que existem?

O processo eleitoral brasileiro é ótimo, o interesse dos Partidos e afiliados é que divergem completamente dos interesses da sociedade, que quer e exige a extinção dos subsídios indevidos, luta para moralizar o gasto, mas não tem êxito, nunca. E jamais terá enquanto se mantiver esta fala, de exaltação do senso de responsabilidade. É simples o motivo. Vou tentar mostrar.

1 - Se 100% da população vai às urnas cumprir com a obrigação de votar e deposita um voto válido, a análise do sistema apresentará uma vitória retumbante do processo eleitoral com a aprovação unânime de todos os eleitores a tudo que está sendo feito e aprovado pelos membros do Legislativo, inclusive o custeio individualizado de gabinete parlamentar, a verba de gabinete, os dois salários no primeiro e no último mês da legislatura, o aumento do Fundo Eleitoral... A classe política vai experimentar verdadeiro regozijo coletivo.

2 - Se apenas 50% da população comparecer às urnas ou anular o voto, a análise terá que levar em conta que metade da população não está satisfeita com as propostas apresentadas e nem com os projetos aprovados pelos nossos congressistas. Cientes destes fatos qualquer protesto de rua nestas condições deixará o Parlamento em polvorosa. Os partidos políticos, independente da coloração, passarão a dar ouvidos ao clamor da população e a tendência será a moralização. E se a gente conseguir formar maioria, as mudanças podem até serem imediatas. Ninguém quer protesto, pancadaria nem confusão.

Para que isso ocorra, a população tem que entender, ou melhor, tem que ver no voto nulo, um voto político, válido como qualquer outro. A diferença é que no voto nulo o eleitor se recusou de entregar o seu voto a qualquer representante legal, só isso, mas foi por uma causa nobre, soube reconhecer que o interesse e objetivo dos postulantes, todos, diferem completamente dos interesses da sociedade, por isso ele preferiu dar o seu voto a um "não candidato".

Só quem sabe jogar evita o jogo sujo, só quem sabe votar, vota nulo. Pelo menos nesse momento em que nós estamos vivendo.

Dilucas
Enviado por Dilucas em 08/12/2019
Reeditado em 21/10/2021
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