O DIA QUE EU PARAR DE FALAR SIGNIFICA QUE ELES VENCERAM

O DIA QUE EU PARAR DE FALAR SIGNIFICA QUE ELES VENCERAM

Diz a lenda que todos os dias de manhã um sujeito, que contestava o governo do país, chegava à praça central da capital, subia em um caixote que trazia de casa e passava o dia inteiro denunciando as barbaridades, os abusos, as falcatruas e as injustiças cometidas contra o povo. E as pessoas que transitavam em frente ao orador ignoravam seu discurso e caminhavam como se não houvesse ninguém falando. Certo dia, um cidadão que sempre escutava “en passant” trechos do discurso daquele orador solitário, aproximou-se do mesmo e perguntou: ”-Meu amigo, por que não desiste, se ninguém ouve suas palavras? Sou testemunha que você é uma pessoas esclarecida, mas o povo não dá a mínima para seu discurso sobre a injustiça, a desonestidade, as mentiras, e a exploração que sofremos e me comove ver seu esforço inútil.” A resposta do abnegado e insistente tribuno foi o título do texto: “- O dia que eu desistir de vir denunciar aquilo que me revolta, significa uma derrota. Você escutou ou se incomodou com minha postura. Quem sabe outros cidadãos se contaminem com minhas palavras.”

Conforme relato do livro “Vida e Destino”, de Vassili Grossman, na extinta União Soviética, quem ousasse desrespeitar as orientações do Partido era mandado para campos de prisioneiros de trabalhos forçados, mesmo sendo comunista. Tratados com o mesmo rigor dos inimigos do Sistema conviviam com bandidos da pior espécie. O medo era implantado de tal maneira que, quando assassinaram um dos prisioneiros, nenhum ousou delatar o assassino, embora todos soubessem quem cometera o crime. Abratchuk, um dos prisioneiros comunistas que amava o país, resolveu delatar e correr risco de morrer do que conviver com o silêncio de saber quem era o culpado. Segundo o autor, ficou feliz por ter vencido a si mesmo, tirando de sua mente o peso imenso da omissão. Sentiu-se aliviado.

“O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”, disse Martin Luther King em um célebre discurso. Quando os bons se calam, os maus triunfam.

“Um dia, vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram. Já não havia mais ninguém para reclamar.” Essa frase, citada pelo Pastor Martin Niemöller foi dita por Brecht ou Maiakovski.

Quanto a mim, há anos ouço falar o que hoje se confirma sobre políticos, graças às delações premiadas. E ouço estórias e mais estórias sobre ligações promíscuas entre empresas, políticos e governo, muitas relatadas por quem presenciou várias negociações espúrias. Em minha opinião esse silêncio se deve a impunidade existente. Até o início da Operação Lava Jato.

Atualmente, nossos políticos lutam para calar a Justiça, inclusive tentando denegrir os magistrados que condenam corruptos. Como sempre fizeram.

Vamos continuar calados?

Paulo Miorim 06/12/2019

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 06/12/2019
Código do texto: T6812532
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