Filho da puta (desculpem-me o título)
Já ultrapassei minha fronteira
Passou das 3 da madruga
Não que eu tenha exagerado no vinho
Mas estou agora sensível ao extremo
Estou cercado pela a Avenida do Contorno
Mas me vejo numa situação incontornável
Só posso ver até onde meus olhos conseguem alcançar
Mas com eles fechados vejo a dor em outras moradas
E a sinto como se fosse minha
Minha dor se estende a outras moradas também
Por isso recebo ligações e mensagens de amor – e agradeço por todas
A fome do outro se torna um buraco no meu estômago
A falta de abraços no mundo
Justifica minha solidão solidária
Cada morte é uma morte em mim
Cada ser nascente é filho meu também – ou melhor, um irmão
Eu sou aquele que muitos querem jogar por debaixo do tapete
Sou mulher
Sou negro
Sou gay
Sou um reencarnado num corpo inaceitável por muitos
Sou puta
Sou gordo
Sou sistema público
Sou SUS
Sou favelado e funkeiro no baile que só quer dançar
Sou real e não fake
Sou professor
Sou pai e filho
E também filho da puta que me amou até o fim da vida
Não sou alguém, sou ninguém querendo compor o todo
Porque não sou um
Sou você
Serei sempre todos aqueles que arrastam correntes da opressão rua afora vida adentro