Minha vida de Clarice

Já tem algum tempo que me sinto como Clarice atrás do livro de Monteiro Lobato, mas por coincidência eu estava atrás de um livro seu, Um sopro de vida, que há pouco encontrei.

Vivi por ele e agora o tenho, mas finjo não tê-lo. O leio, mas a todo momento o recomeço como se fosse a primeira vez. O abraço e me convenço de que é verdade.

Sei que quando chegar no último ponto final, chegarei também ao último ponto de Clarice, e de algum modo essa obra se tornará a mais importante de todas as outras que ela escreveu e que tive a oportunidade de ler.

Me lembro de quando quase reprovei em matemática por estar ocupada demais lendo A hora da estrela ao invés de estudar para a prova. Me lembro das questões desse livro que acertei no vestibular que me levaram ao lugar onde estou hoje.

Até a metade do livro me senti numa introdução interminável e envolvente que eu sabia que valeria a pena seguir. Pois bem, assim segui. Macabeia se tornou meu primeiro sopro de vida, Clarice meu primeiro amor literário.

Mesmo termos vivido em tempos distintos, Clarice me lê e me descreve melhor do que eu mesma. De alguma forma ela me guia a um futuro que não tenho a menor ideia de qual é, mas que será onde darei significado a minha existência. Ou talvez não, talvez eu já tenha achado esse significado e estou apenas me guiando a um lugar qualquer.

Através de Macabeia, Clarice me ensinou que viver é esperar.

Clarice me ensinou a me decifrar e a me amar, uma vez que a partir dela aprendi a me olhar e apreciar a solidão. Com Clarice aprendi que o tempo não é nada e o que fazemos da vida não merecem nomeações. Viver é não identificar, é se jogar na loucura de não ser ninguém. Viver é simplesmente ser e se ter mesmo sem saber quem se é.

Ah Clarice, queria eu poder te escrever várias cartas sobre cada livro seu e a importância de cada um em minha vida. Com você aprendi a me deixar ir e também me buscar, a me ter e me doar. A esperar e seguir.

Aqui escrevo sobre sua última obra, lutando para não chegar ao fim mas me guiando à ele. Nela me espero em cada palavra e me deixo ir, voltando e seguindo, até o último ponto final.

maria paula da silva lima
Enviado por maria paula da silva lima em 02/12/2019
Código do texto: T6809337
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