O desejo é sempre na falta?
“(...) quando a gente fica junto tem briga,
quando a gente se separa saudade.”*
Ao contrário do que diz a canção entonada pelos cantores sertanejos Jorge e Mateus, quando estou com ela é que é perfeito, e é na distância que os piores sentimentos desabrocham.
“A ausência diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes (...).”**
Ao revés do que diz pensamento do maior escritor brasileiro de todos os tempos, o mestre sem mestre, Machado de Assis, meu (nosso) relacionamento é — e sempre foi — regado e não raras vezes ressuscitado pela presença, pelo toque, pelo perfume.
Permitam-me mais duas citações, agora da filosofia grega clássica:
“O amor é desejo, e desejo é a falta”.
“O que não temos, o que não somos, o que nos falta, eis os objetos do desejo e do amor.”
A primeira é de Sócrates***, e a segunda de Platão* * * *. Ouso discordar, pois meu amor desenvolve-se na presença e esfria na indiferença assemelhada à distância. Prefiro a constância.
E poderia ser diferente? Fico cá a pensar...
Um sorriso ou um “essa semana não vai dar para te ver”?
Um beijão (ou beijinho) ou um “hoje não vai rolar”?
Uma caminhada no parque e depois um sorvete (porque equilíbrio é tudo) ou um “deixemos para outro dia”?
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*Amor covarde. Composta pelo grande Dorgival Dantas.
**Machado de Assis In Contos Selecionados.
***O banquete, de Platão.
****Idem.
Post Scriptum para dizer que devemos ter a capacidade de ser críticos, de separarmos, por mais bonito, clássico, encantador que seja: o canto da sereia, o joio do trigo. Essa racionalidade aqui exigida é a única característica que nos diferencia dos animais...