MORTE: Fábula 3

Continuo a fuzilar textos fabulaicos de anos quase perdidos no tempo. Tomo a

FABULA I (de Esopo com applicações moraes a cada fabula. Nova edição revista e emendada. PARIS, na Typographia de Pillet Fils Ainé, Rua de Grans-Augustins, n. 7, 1848)

O Galllo e a Pérola.

Andava o Gallo esgravatando no monturo, para achar migalhas ou bichos

que comer, e acertou de descobrir huma pedra, então: Ó Pedra preciosa,

ainda que em lugar sujo, se agora te achara hum discreto Lapidario, te

recolhera; mas a mim não me prestas: mais caso faço de huma migalha, que busco para meu sustento, ou dous grãos de cevada. Dito isto , a deixou, e foi por diante esgravatando para buscar conveniente mantimento. (pp. 23-24)

O comentarista dá a seguinte

MORALIDADE.

Os necios, despresando os documentos proveitosos e doutrina moral, que debaixo das Fabulas so encobre, fazem o que fez este Gallo; buscão cousas baixas, cevada e migalhinhas; convém a saber, a casca das cousas, e as historias deste Livro , e despresão a pedra preciosa da doutrina, que nellas Esopo nos quiz ensinar. Para que nós não sejamos

do numero destes, vamos de cada Fabula tirando huma lição moral, tocante ao bom governo de nossa vida. (pp. 24-25)

...

Apenas tiro uma lição não moral, mas sim prática: os escritores em português mantiveram ao longo dos séculos constantes na grafia, mas também promoveram mudanças que quase sempre facilitam a leitura dos textos para as pessoas já bem alfabetizadas.