Eu sinto muito
Eu finalmente percebi que eu era mais forte do que pensava.
Porque eu continuava, apesar do cansaço, apesar do desânimo e vazio, apesar do sentimento de solidão constante, e das súbitas vontades de desistir, ainda havia uma pequena chama, uma pequena esperança de dias melhores, de que ventos bons um dia soprem forte o suficiente para que os dias ruins tenham válido a pena.
Tentei mentalizar que nessa jornada que é a vida, eu não estou sozinha, ou nunca estive.
E de alguma forma pensar abertamente sobre a minha inútil pessoa me conforta de alguma maneira, do mesmo modo que digo que estou bem quero dizer agora que estou mal e está tudo bem, faz parte, vou melhorar.
Neste momento, um turbilhão de pensamentos passeiam na minha cabeça.
Eu poderia tentar explicar o que sinto, mas, agora, mais do que nunca, sei que minhas condições neurológica atípica não favorece a interpretação de sentimentos, não da maneira convencional, àquela da qual as pessoas neurotípicas, as ditas normais, estão habituadas.
Sabe quando você caminha na praia, a água na altura da cintura, daí, sem que perceba, você pisa num daqueles buracos formados na areia e, repentinamente, desespera-se.
Você afunda sorrateiramente e, inutilmente, tenta agarrar-se em algo, mas a única coisa ao seu redor é água. Nenhuma superfície sólida para te socorrer.
É assim que me sinto.
Estava afundando e não tinha onde me agarrar.
Os lugares que tentei, as pessoas que me agarrei, mostraram-se tão solúveis quanto à água do mar.
A verdade é que, em nossos infinitos arranjos de personalidades, os quais sustentam isto que chamamos de civilização, reconhecemos e sentimos o mundo em formas e intensidades diferentes.
E eu, sinto, e sinto muito.