O Peregrinar obscuro

O corpo terreno prende na ignorância ao homem espiritual. Espírito e matéria foram forçados a convier em esta amarga terra – com florestas virgens e desertos. Pela queda do poder divino, ante a ânsia de experimentar todos teus loucos desejos perdidos, e mesmo pervertidos, a ela vieste. Porque, sabes muito bem, pervertes-te a tua forma primordial perfeita, para em este corpo doado pela natureza, expressar-te, em início, da maneira mais rudimentar externa... Aquele troco do Poder mudar, em face da sede pela matéria, trouxe estas evidências: a necessidade de calmar desejos. Aqui, agora habitas, cobiçoso por possuir, tudo quanto – este vale da dor, sofrimento – te oferece. O rio das lágrimas, que terás que atravessar, para de novo voltar a beira clara de onde partiste: fica sempre apertado pela névoa... Bretêma no coração e na mente.

Sabes que tentar regressar a casa é agora tua meta – néscio avarento envolto em carnais defeitos, por ti mesmo fabricados (carmicamente) – Aqueles, pelos quais, perdeste o caminho de regresso.

A volta do Filho Pródigo faz-se terrível, cheia de provas, que sempre antecipam, outras ainda mais espessas.

Essa foi tua escolha, não lembras?

Trocaste tuas vestes de luz, por estes farrapos negros… Agora, de que te queixas? Demasiadas encostas no caminho, demasiadas pedras, demasiado temor, demasiada violência? Tudo disso já sabias, ainda que agora não lembres, não queiras lembras, não intuas nos adentros… Mas querias experimentar os prazeres do corpo feito homem, mulher, meninho, adolescente…

Ate que voltes a encontrar os valores, que nesta queda perdestes: a tua ética imaculada, o teu reto falar, a tua mano limpa de sangue, fechada (hoje) nessa falsa habilidosa mente, durante séculos aguçada, para servir a teus apetites imensos…

Ate que não voltes a encontrar tua luz, a sombra em ti se adensa…

Mas olha teu rosto perfeito no espelho, como gostas dele! Isso ainda te impede, regressar aos Jardins Celestes… Ao espelho te apegaste, contemplando tua linda pele, recém lavada e fresca. Essa é a maior das tuas cadeias, narcisista involuído na atenção a todo o externo: os reclamos que consideras tão belos, te afundam na lama da sensualidade, inferior – do sensitivo criado Infero - Inferno – teu bem esculpido interior, na gloria eterna ausente.

Assim que deixa já de reclamar, e, encaminha definitivamente teus passos a íngreme montanha, a precisa Pendente do Penitente, pelo encumeado espiralado trajeto, a tua primeira vitoria eleva. Uma vez que chegues ao cume, terás uma visão mais abrangente: teus passos viraram, por fim, ao caminho do meio… Não entanto lembra: detrás desta montanha milhares de picos se levantam…

E, a pesar do esforço, bela é caminhada daquele que ao Lar da Mãe (sempre amorosa), regressa.

Finaliza o obscuro peregrinar, inicia-se em ti a recolha da Boa Semente…