Um olhar para si: Para você que não sabe o que fazer com toda essa intensidade.

Eu sou meio Julia Roberts em Comer Rezar Amar.

Você está lá, no meio da multidão de pequenas pessoas, o suficiente para sentir-se sufocado, perdido e é como se cada vez mais fosse retirado de você porcentagens de ar. E cada vez mais piora. Você não se encaixa, não se sente à vontade. Tudo é muito desconfortável. Até acordar se torna um fardo.

De repente, bem aos pouquinhos, você olha para dentro. Há alguma coisa, um evento, um vento qualquer importante, que te proporcionar isso. Então percebes que o deslocamento é interior. Você perdeu-se de si. Olha-se no espelho e a imagem refletida causa estranheza. O que é esse reflexo?

Foi assim que me senti, naquele exato momento. Talvez um dia eu comente sobre o momento. Mas, o que importa agora é o processo. Eu não sabia quem eu era e desde então vivo os dias olhando para dentro de mim. Inicialmente era uma busca para tentar me ajustar, dar uma coerência a mim mesmo, buscar um estado de normalidade. Hoje tenho outra leitura sobre. Sou transições, mudanças e inconstâncias. Embora isso não me retire a características de ser certezas, verdades e intensidades.

Mas, o fato é que vago por entre os espaços que formam isso que chamo de "eu".

De processos mínimos, como "que comida mais gosto?", à "quais meus propósitos de vida no mundo?", questões profundas e instigantes, vou me percebendo, escrevendo e possibilitando.

Toda vez que assisto o filme eu me percebo ao longo desses quatro anos. Es durante eles, tratei de preencher-me de parcelas, porções e doses de mim mesmo.

A busca por objetivos, metas, sonhos, verdades e incertezas passaram a me constituir. O combustível para o meu motor passou a ser esse processo de autorreflexão, de olhar para si e sair do estado de desconhecimento.

Sei que parte disso foi para me fortalecer, ser mais coerente com essa intensidade que sou eu. Para não me deixar levar por qualquer pessoa ou situação. Para não me perder de mim. Para saber onde me caibo. E saber que eu transbordo e meu espaço é aonde tenha espaço para transbordar. Vôos de liberdade.

Passei a viver um intenso processo de autodescoberta, que me trouxe a necessidade da autorresponsabilidade. Que o meu interior, antes de tudo, é responsabilidade minha. Eu preciso me encontrar, para quem sabe um dia, poder encontrar-me com outro(s), mas consciente que no encontro com outro(s) eu também me conhecerei e re-farei todas as percepções sobre mim.

O que vem facilitando, ao longo desses anos é perceber os lugares que me cabem, quando é me permitido estar e ficar. Mas também, quando é chegada a hora de partir. E sofrer menos com as partidas, por ter as incertezas e estar num estado de percepção da vulnerabilidade. E, ao estar nesse lugar, a vulnerabilidade, perceber que nela se encontra um espaço para desconstruções, re-descobertas e criações. É potente, porque é latente.

É mover-se ao encontro das possibilidades e concretiza-las.

É encontrar-se consigo mesmo, tentando dar uma coerência que pode ser incoerente e tudo bem! Posso ser incoerência também.

Acredito que no final, é uma vontade de perceber-se para estar bem. E assim vou movendo-me de um lado para o outro, nos espaços já construídos, mas também derrubando as paredes desse espaços e desbravando territórios, para caber mais de mim, para transbordar.

É, sou meio Julia Roberts em Comer Rezar Amar.