Vivo no mundo, mas não pertenço a ele.

     Não importa qual seja a moda, estou sempre fora dela. Pode-se alterar o conceito de belo, não sou referencial, me enquadro no extremo-oposto, no suprassumo do cafona. Talhada para participar da peça, porém na platéia porque o mundo sempre dá as suas voltas e eu continuo apenas observando a vida roubar o que me resta de esperança, me apresento como aquela que nunca irá se encaixar porque é uma peça sem relevância no contexto geral.
     Vivo no mundo, mas não pertenço a ele.
     A tristeza que sufoca minha alma se dá por reconhecer que me machuquei tanto para caber em algum lugar, para que algum coração me acolhesse e cuidasse de mim, para fazer parte de um grupo, sendo que no fim das contas eu traí minhas convicções, engoli meus verdadeiros sentimentos e desejos porque queria estar a contento das expectativas alheias e todos aqueles por quem eu me sacrifiquei vivem muito bem sem mim, enquanto que agora não tenho a menor ideia de quem sou e do que devo fazer porque evito o espelho, não porque odeio o que ele me mostra e sim porque estou destruída.
     E dói.
     Dói porque a culpa é minha. Porque mendigo a atenção de pessoas que já demonstraram claramente que não fazem questão da minha amizade. Porque me sinto envergonhada por não ter amigos de verdade. Porque é triste saber que no meu aniversário as pessoas só se "lembram" porque o Facebook notifica. Porque é o único dia no ano em que por pura obrigação, sou bem tratada. Porque a criança que eu era teria desprezo de quem sou hoje. Porque vivendo no piloto automático e com medo de me posicionar, fui manipulada e agora vejo o quanto isso foi tóxico, me puxou para trás. Porque sei que estou falando sozinha.
     Não importa o quanto eu me esforce para ser a melhor versão de mim e que eu siga as tendências, nunca me sentirei fazendo parte de verdade do bando. A verdade é que sempre serei diferente do padrão. Não é para causar, para que tenham dó. É fato. E estou cansada de ficar em cima do muro, de não poder falar o que penso para não desagradar fulana, nem beltrana, sendo que ninguém tem dó na hora de me magoar.
     Queria aceitar que a mudança mais significativa que devo fazer é em relação a mim mesma, a maneira como me trato, porém estou em pedaços e meu coração está tão bagunçado que não sei por onde devo começar a arrumação, tento me aprofundar para saber quando parei de seguir o meu coração para correr atrás do bando, em algum momento eu não consegui ouvir minha intuição ou se ouvi, por medo do que pensariam, ignorei a verdade e agora o preço que pago é bem amargo.
     Pior do que a solidão.
     Muito, muito pior.
     A solidão vai além de não ter amigos, porque sei que não tenho amigos para todas as horas, apenas converso com algumas pessoas, devastador é não ter a mim mesma, é estar fraca demais para qualquer coisa, estar no meio de tanta gente e me sentir completamente oca, perder a fé de que existe sinceridade, bondade, de que pode existir alguém que goste de mim do jeito que sou, que não queira me mudar, que não me obrigue a ser algo que não sou e depois nada baste.
     Agora vem o golpe mais cruel: será que eu sei quem sou?
Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 06/11/2019
Reeditado em 08/04/2020
Código do texto: T6788715
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