Inconstância
Um camaleão; é isso que sou. Metamorfose. Refúgio; solução. E, ainda assim, sempre a mesma. – A reconfortando certeza que, mesmo em constante mudança, sempre serei eu, ainda que talvez, e quase certamente, ninguém conheça este eu. O único eu. O eu sem refúgios, sem máscaras. O eu que mora preso, trancafiado, em um castelo fechado a sete chaves. Segurança!
Entretanto, pergunto-lhe novamente: será que algum dia sua segurança trará tranqüilidade? Você, finalmente, nos dará paz?
Desista! Já não há esperança. Nem para você, nem tampouco para mim.
Não, querida, não chore. Estamos sozinhas. Sozinhas! Não, não chore mais. De quem você precisaria? Nós nos bastamos, entenda. Você conseguiu! Conseguiu. Conseguiu...Sim, entendo, a alegria de ter conseguido já se foi; é a dor. A dor, profunda, lancinante, inefável; hóspede indesejável, e, no entanto, sempre presente. Sempre. Claro, posso sentir. Posso sentir em cada batida sôfrega do seu coração; posso sentir sua alma morta – nossa alma – pronta, enfim, para queimar de uma vez. Antes, porém, vá juntar seus cacos. Não posso fazê-lo por você, sabe disso. Por fim, não nos esqueça para trás, já que, e lembre-se disso, eu sou você e você sou eu. E estamos sozinhos.