Te vi na rua ontem

Eu te vi na rua ontem, estava deslumbrante e consideravelmente melhor, um novo, uma face nova em meio à nostalgia, da tua água salgada eu senti o caldo praieiro, as curvas da areia e a insolação desagradável no estômago.

Assim que teu sorriso encarou minha íris eu quis fugir, pois não me vem o bom e agradável como as conversas da madrugada, mas as palavras vazias, as incertezas, as barreiras palpáveis que foram impostas, o som do silêncio.

Mas por mim veio falar comigo, até mim e em frente, na paridade de armas que são os “bom dia” e “quanto tempo”, mas aquela que fagulhou nossas espadas foram o “você mudou”, “não lhe reconheci com esse sorriso”. Ora, o quanto dói, ver um sorriso largo após anos de cárcere de palavras, seu nome sumira anos do vocabulário, voltando como o fantasma da fome no inverno mais frio.

Como se tratava do verão mais quente, com a cor mais quente sendo minha mudança, era casualidade quem pairava, segurando o Sol como as nuvens cobrindo a tarde das 15 horas, me vira por ser um encontro, mas torcendo pelo desencontro, o verdadeiro “te vejo por aí” que nunca se concretiza.

Saudades? Continua não, as vezes do que fora feito, mas nada que o embargo seja de negatividade, pela sujeita de abandono, pela inércia e finalmente, o abandono.

O maior estranho nem era tu, mas o eu quem viu você em mim. O eu em você continua existindo por me reconhecer depois de ter mudado tanto. Diferente, talvez atraente aos olhos dos supérfluos, dos inominados e dos esquecidos. Mas nunca, jamais, arrependido.

E quem serás tu agora? Por me vir e sobrevir a tua petulância, os dias foram benção com o futuro que hoje seria presente, o maior presente, é ver a evolução, mas o receio é saber que no teu âmago, um pouco de você, continua sendo por inteira a ti própria.

Hoje foi um dia único, quem me dera tão único a ponto de não existir. Porém no emaranhado de incertezas, fora uma certeza tão certeira, a ponto de causar-me o ferimento mínimo, aquele que por menor o potencial ofensivo, a ferida invisível, doeu.

E tua mão na minha, fria como neve, fez com que a tua solidez seja concreta, tão dura como o pensamento de medo, daquele que nutria como dieta para emagrecer. Hoje, gordos por novos dias.

Agora o apreço, o carinho que nunca fora como ninguém quis, tudo etiquetado pelo destino, o mesmo que propôs este encontro a pequena mancha no pano que logo queremos tirar, mas não deixa de existir, a não ser que o linho se desfaça.

Com o Sol, o aperto nos olhos me são familiares, o mesmo que eu tentava entender quão teu mistério queria me dizer, sobressaltando de evidência, tão evidente a ser transparente, que era aparente, mas eu que não quis ver.

Para finalizar, o interesse, agora que a tua metade não iguala ao me inteiro, novo eu, como eu. Sou novo e sou melhor e donde me encontro hoje, não há espaços para migalhas, as despedidas foram breves, os sentimentos, intrínsecos para formular a melhor das saídas, daquela que não pude mas queria olhar para trás, só que decidi não olhar tua mão chamando novamente, e novamente, não porque não ouvi, mas que fingi não escutar.

Nos teus lábios ainda existem o meu nome, o teu, guardado como mensagens que apaguei num verão qualquer, mas as chuvas que deram nos dias mais quentes, não foram os mesmo que ainda chovem neste ano. São verões que não voltarão, só que mesmo sem você, eu ainda sinto o calor.

Por fim, despertei do transe, daquele que a gente olha quando encara um ente amado, a ponto de querer correr atrás por um novo abraço, sentimento velho. Só no momento que me toquei, que vi o olhar penetrante entre os reflexos, daquele espelho te vi, encarando a mim mesmo com a mão suada, pois quem sou hoje pode não apagar quem eu fui ontem, mas com certeza sobressai melhor com as condições que me fizeram ser inteiro.

“Te vi na rua ontem”, realmente te vi e gostei do que vi. Encarei mas fiz cena, porque no final, não era todo dia que poderia tocar em quem via e não aceitava, hoje aceito e quero ver, com o quanto me fez promissor o amor.

Principalmente o amor próprio.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 23/10/2019
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