Querido eu... que merda tu fizeste a ti?
Querido eu,
É a primeira que eu escrevo-te depois séculos sem saber o que era um pedaço de papel e uma caneta. Para ser mais honesta, eu não me sinto mais pertencente neste espaço. As escritas não são minhas. São de um outro alguém. Quem ser este outro alguém? Não sei. Na verdade, eu só sei chorar nesta carta por ser tão difícil pra mim escrever novamente.
E eu pergunto-te agora, querido eu... que merda tu fizeste a ti? A tua vida resume-te a um corpo sem dono e uma alma sem vida. O teu egoísmo fez as rosas morrerem e as tuas risadas perversas fizeram o teu eu chorar. Aliás, quem é o teu eu? E existe esse teu eu? Desculpa minhas sinceras palavras, porém eu não o vejo aqui nesta folha.
Sabe, eu arrependo-me de estar aqui. E mais arrependo mais ainda de um dia ter dado-lhe a corda para puxar-te a algo. Já paraste para pensar que tu és um desgostoso? Que tu não tens nada a oferecer ao mundo há não ser o teu corpo guardado debaixo da terra e devorado pela mãe natureza?
Eu não queria ter que culpar-lhe pela dor que tu passas, mas tenho que culpar-lhe pela amargura que é o teu coração. Tu calaste o teu próprio ventre porque não te culpas. Culpas-te por ser um ser vivo. Cobra-te por tentar ser alguém ao qual tu não és. Esta é a tua realidade. Todas as pessoas vivem as vidas delas e tu? Onde vives?
Eu preciso encerrar esta carta antes que aconteça algo ruim contigo. Enxugue tuas lágrimas, por favor, tu não mereces um pedaço dessa tristeza toda. E tu não mereces nem a alegria de sorrir. Tu mereces apenas ser uma pessoa neutra neste mundo e sem qualquer desejo que ainda exista sobre ti.
Eis a minha última carta a ti.