SOBRE A POESIA "HERMÉTICA"(?)
O “hermetismo” talvez seja um caminho onde muitos poetas tendam a cair. Pois a poesia, por ser um caminho para si mesmo, um reencontro, acaba por se tornar um enigma só perceptível mais para quem escreveu e menos para quem o lê. Este, por sua hora, diante da dificuldade, “divinizará” ou “blasfemará” do que não compreendeu. Refiro-me (também) ao uso desnecessário de termos antiquados e mal incluídos que mais atrapalham a catarse do que a promovem.
(_O divino não é, afinal, o incognoscível?)
Quero dizer com isso que o leitor, quanto mais repertório tiver, além de compreender, refará uma nova leitura de acordo com suas experiências e com a tônica de sua vida. É a este chamado que Miguel de Unamuno em “Como se Faz Uma Novela” fazia menção ao decretar a sina do leitor.
_ “Caro leitor, ao terminares este relato, deves morrer!”
O que escrevemos não nos pertence, pertence ao coletivo e é, por vezes, o acumulado das vivências universais. O escritor, poeta, é apenas um xamã. É um instrumento por onde o espírito do tempo permeia e publiciza sua verdade histórica, a sua mensagem para a contemporaneidade, incubada como profecia, revelada no cotidiano, despertada pelos estímulos das emoções e cuspida como prostituta para o apedrejamento. Compreendida pela experiência única de quem sentiu e acessada via código para o que (jamais) a define. Nunca igual. Uma releitura. Um outro olhar. Acréscimo sem supressão.
Porém sabemos que há no meio literário muito pieguismo da parte de alguns ao tentarem passar uma imagem do que não são ou viveram. E por mais que o poeta seja “um fingidor”, ele produz arte com o sentimento, ainda que de outros. Ninguém pode entrar no Santo dos Santos se não estiver puro. Deve haver verdade naquilo que se expressa.
Particularmente, prefiro os poemas "acessíveis". Símplices. Não vejo com bons olhos quem faz da poesia um bicho de sete cabeças. A poesia deve ser primeiro a compreensão de seu tempo, a mistificação da vida. Deve ser humilde ao fazer o chamado, para, só assim, iniciar a elevação.
Fernando Pessoa, por exemplo, tem essa mística de que falo, com a diferença de fazer o leitor adentrar nas brumas da sua escrita. Consegue conectar quem o lê, e penso ser este o papel da poesia: iniciar profanos.