__________________NATUREZA TEIMOSA
Ah, essa minha natureza teimosa em corpo fêmea!
Esses olhos em tom de âmbar, asas pela extensão da poesia...
Essa teima feminina e cheiro doce na pele e o movimento singular e a mania de organizar o caos. Essa matéria pequena e delicada e que, de repente, emerge tempestade! Mas logo depois garoa - gota a gota - em soluços de menina em busca de cuidados.
Ah, o beijo sedento, profano e molhado e a fala que repousa quando entendida e a mão trêmula no toque de outra.
Ah, essa fala tagarela que canta, sorri, chora e conta, às vezes, distante do que é força; às vezes, acreditada dos próprios punhos.
Ah, essa mania feminina de simplificar o complexo, de achar tudo possível e da afeição pela poesia. Essa razão que às vezes falta na medida em que repousa em sonhos e sorri, pacífica e manhosa diante das carícias.
Imperfeita mas de alma enternecida e forte, a língua embriagada agora pelo vinho e o desejo pelo saber, feito flor diante das intempéries da natureza.
Ah, esse olhar agradecido todas as manhãs, os braços abertos para mais um dia e essa fé feminina à sombra da poesia... A fala sem pedras, o gosto pela vida e a tristeza que passa. Sempre passa... A vida é muito curta para ficar remoendo cicatrizes. Ah, mas mulher tem memória de elefante e implica, ô se implica! É manha, é meninice que comprime o peito mas logo vem o deslumbramento pelo quintal - e brinca! Brinca esquecida da idade enquanto toma o primeiro café.
Ah, essa minha natureza feminina, eu amo ser mulher!