Mais um dia dos professores...

Já faz alguns anos, desde o tempo no qual eu era estudante do Ensino Fundamental em uma escola estadual da minha cidade, que sempre nutria em mim uma certa paixão pela docência, pelo ensino. Com o passar dos anos, conclui os estudos no Ensino Médio e fui aprovado em um vestibular para o curso de licenciatura em História.

É engraçado lembrar desses fatos... Dos sete anos em que estudei naquela escola em seis deles tive aulas com a mesma professora de História a qual veio a falecer no mesmo ano em que ingressei na Universidade, instituição responsável pela formação dela também.

Ela era uma pessoa que eu admirava muito não apenas pela alta qualidade das aulas, mas também por causa do ser humano que ela era. Estava sempre alegre, otimista, gostava muito da profissão que escolhera para si, chegara inclusive a investir recursos próprios para oferecer um bom ensino. Tudo isso sempre me encantou muito e talvez tenha me tornado uma pessoa um pouco utópica naquela época e até os dias de hoje, o que não chega a ser algo ruim. Já diz o historiador que "Quem usa palavras de sonho e esperança mantém certo domínio sobre os fatos. Esse é o poder das utopias" (Hilário Franco Junior).

Quando de fato iniciei minha formação acadêmica apareceram diversos motivos para eu querer desistir: as baixas expectativas do mercado de trabalho, problemas de estruturação do curso, a distância e os obstáculos entre a minha casa e a faculdade, as primeiras experiências não muito fáceis como professor e por aí vai...

Não é novidade para ninguém os diversos problemas que o Brasil passa quando o assunto é saúde e educação, especialmente sobre essa última, minha futura área de atuação, percebo que os obstáculos são muito diversos e vão muito além da remuneração salarial, o que por si só já é um grande problema.

As escolas possuem problemas estruturais dos mais variados tipos, desde salas muito lotadas, passando pela ausência de materiais adequados para o exercício da profissão e chegando ao cúmulo de, em casos extremos, total ausência de uma local apropriado para a ministração das aulas, sendo essas realizadas em ambientes mal adaptados.

Os alunos com problemas disciplinares vindos de casa, não sabem se comportar em uma instituição de ensino, muitas vezes porque seus pais negligenciam uma educação de qualidade seja pelo fato de trabalharem muito e não terem tempo – ou por não priorizarem esse aspecto da vida de seus filhos como se o dinheiro fosse a solução para tudo, o que não é verdade – ou simplesmente por não se importarem com seus filhos como deveriam. Tal cenário acaba acarretando um acúmulo de funções para o professor que se vê obrigado a realizar a função a qual, na verdade, pertence à família.

Hoje, nesse 15 de outubro de 2019, nos últimos meses da minha graduação, um pouco mais maduro do que antes, mas nem tanto assim, me vejo diante desse panorama todo e fico me perguntando qual caminho de fato devo seguir...

A questão aqui não é uma crise vocacional ou algo do tipo, não, não é isso! Em nenhum momento surgiu o arrependimento de tal escolha, gosto muito da profissão que escolhi, ou que me escolheu – as vezes, tenho a sensação de que na verdade foi à docência que me convidou a trabalhar com ela e não pude recusar –, mas frequentemente me pego a questionar sobre os meio dos quais usarei para me sustentar até conseguir um emprego estável.

De um lado os contratadores exigem tempo de experiência na profissão – o que de fato não possuo no presente momento – e por outro pedem cursos de pós-graduação e especialização, porém para adquirir experiência profissional e investir na formação não podemos negar que a saída é uma só e conhecida por todos...

É nesse paradoxo que me vejo nos dias de hoje...

Em mais esse dia dos professores – ou menos um, variando do ponto de vista –, deixo essas singelas reflexões, talvez eu não traga nelas nenhuma novidade, e esse nem é foco, porém eu não poderia deixar essa data passar em branco, sem expressar um pouco da confusão de sentimentos e pensamentos que há dentro de mim nesse momento.

Eu também não estou procurando muitas respostas, pois acredito que o tempo irá trazê-las, porém a você caro leitor deixo alguns questionamentos os quais provavelmente também sirvam para outros profissionais: Será que não devemos repensar nosso posicionamento frente aos rumos que a educação vem tomando nesse momento? Educação é apenas um problema – ou melhor dizendo, solução – para o professor ou para o país todo? O que fazer em um contexto tão conturbado como o que vivemos nos dias de hoje, onde muitos estão capacitados e desempregados?