"BARRAQUICES, LIVRÍCES, O BRASIL SENDO BRASIL (COM SUAS IDIOTICES)... &... A ARTE DE BATER COM A BÍBLIA NA CABEÇA DOS OUTROS"

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Quando cheguei em Lençóis, montei uma barraca de livros no meio da rua, independente de quanto minha família tivesse no bolso, no banco, em casa. Independentemente do que iriam achar... Chega uma idade em que se faz isso. Chega uma idade em que se CHEGA LÁ... Eu vi miséria em minha volta...Vi racismo velado, e uma estagnação disfarçada de tradição. Gente pobre que nem consegue conceber a ideia de que MERECEM, sim! ... uma vida bem mais fácil. Gente que não pede esmola. Lençoiense NÃO PEDE ESMOLA, meu amigo.

Fiz amizade com uma mulher, mãe solteira de duas crianças.. que recebia QUATROCENTOS REAIS de salário. E trabalhava várias horas a mais do que eu. Depois de tudo o que eu achava - bestamente - que estava "abrindo mão", eu não fazia a MENOR IDEIA DO QUE É POBREZA. E quando disse a ela, que o salário mínimo era muito mais do que aquela merreca que ela ganhava… Ela me encarou como se eu estivesse dizendo que extraterrestres tinham invadido a cidade.

Em 7 meses eu saí de lá….Pois notei que eu estava sendo um inútil, tanto para a cidade, quanto pra mim mesmo. Mas... se for para agradecer alguém, pelo bem que tenho tido, pelo conforto dessa casa grande, pelo calor de um cobertor durante a noite, por todos os cachos de uva que não enjoo de comer na hora de dormir.

E, final, pela força que ganhei e que nem sabia que tinha. Agradeceria – com certeza - àqueles rostos que ainda percorrem minha cabeça, e meus pensamentos, todo santo dia. Em sonhos nostálgicos e pesadelos infundados de ter que... algum dia, voltar.