devaneio filosófico VI (ou se partisse hoje, esse seria meu epitáfio)

Eu sou aquele que não era eu antes de mim. Com essa singela premissa, - admito, de chofre, soa como algo destituído da mínima racionalidade e, porquê não dizer, algo à beira da mais pura demonstração de insanidade (rsrsrs) - pretendo demonstrar, ou melhor, enunciar, possibilidades que me acompanham desde meus 14, 15 anos.

A frase com que abro esse meu pensamento, acreditem, surgiu exatamente nessa idade. Eu, como, todo adolescente, me detinha em elucubrações que me escapavam provenientes de leituras com as quais me relacionava. Foi nessa idade que li História da Filosofia Ocidental, de Bertrand Russell. Que descoberta! Ter contato com os pré-socráticos, depois com o próprio, me abriram mil possibilidades. Foi nesse momento que decidi trilhar esse caminho. Pensar na possibilidade de "escavar" intenções, enunciados; não me descansei, porém, às vezes, me permito certa preguiça em dar seguimento à discussões que se encarregam de desnudar preconceitos.

Considero, por formação e profundo respeito ao debate, opiniões divergentes às minhas. Não posso, sob pena de traição a esses princípios, ensejar qualquer ato ou fala que possa parecer imposição minha. Assim, ouvir cada enunciado, mesmo que eu discorde, me possibilita aprender e, talvez, apreender, novas interpretações que me escapavam àquela altura. É nesse oásis de opiniões e saberes, que eu penso ser o habitat natural de qualquer um que entende serem as relações humanas fundantes de nossa capacidade de raciocinar, que se dão os embates e as conciliações para o que se anuncia como o bom combate.

E assim eu vou. Seguindo meu caminho - às vezes com pedras, muitas pedras, que parecem querem impedir que eu avance. Porém, teimoso que sou, sigo.

Eu sou aquele que não era eu antes de mim. Sou você e o outro que me dão a possibilidade de existir. Sou o andarilho sem rumo. O navegante sem bussola. Sou aquele que segue em busca do amanhã, sabendo que o hoje é o elo da corrente de ontem, num ciclo de acontecimentos que se interagem enquanto mecanismo de existência. É isso: um viver irresoluto de seguir nessa caminhada, às vezes recepcionada com tempestades, outras mais - muito mais -, abraçada com sorrisos e boas novas.