Da devoção ao suicídio
Da devoção ao suicídio
O que significa viver? A possível resposta a essa pergunta vai dar a direção e conduzir o modo que uma pessoa orienta sua caminhada. Viver é apenas estar no mundo? Assim não precisa de esforços e nem de atitudes, basta se deixar levar pela onda das coisas. Mas se viver é construir a própria estrada, agora cada escolha, cada gesto, cada passo reflete o que se é e o que se quer ser. A vida é um emaranhado de relações e situações, diante de tantas possibilidades alguém pode apenas sobreviver, mas outros podem assumir as próprias passadas, tomando consciência dos atos e sendo responsável do que se vive, ainda que muitas vezes não dê certo.
O que se quer da vida? O interesse e o que movimenta a vida faz com que as pessoas escolha determinadas coisas e não outras. O que se deseja é o gás que impulsiona a todo tipo de esforço para se chegar a certo propósito. Se o que se quer da vida for apenas futilidades, futilidades se terá, pois cada pessoa obterá o que de fato quer.
O que se busca? É o sonho, o ideal que cada um carrega consigo, e que o que realmente define o ripo de vida que um passa a viver. Tem sim os limites e as falhas, mas o que cada pessoa busca é o de fato define a caminhada da pessoa. O que se espera? Não pretender muito da vida, ela é simples e nem todos tem os mesmos dons e oportunidades, portanto, esperar além do necessário é caminho para a frustração; algumas vezes a vida é ingrata sim, mas não se pode querer ser como os outros, querer as coisas dos outros ou o reconhecimento. Cada um deve se realizar a partir de si e não da submissão aos outros.
Em que a vida se sustenta? Em que se apoia a sua existência? Se em coisas e nas pessoas, o destino é a decepção, a tristeza. Tudo é transitório e se destina a terminar e se alguém se apega vem o sentimento de perda e também de desabrigo. A vida é passageira e tudo que a ela se vincula. Os laços familiares e de amizade são bons, mas não são eternos. Por isso, uma vida para ser saudável e serena precisa ser sustentada por coisas essenciais.
Onde está o fundamento e o sentido do que se faz e vive? Para que tudo isso que temos? Para onde corremos? Onde se chegará com tudo esse estresse? O que nos espera com todo esse afã de querer e ter? O que importa de fato na sua vida? Ocupar-se em coisas necessárias e que dão prazer, cultivar pequenos gestos de bondade e vivenciar cada momento que se tem oportunidade. Isso afasta toda banalidade e ajuda vislumbrar a felicidade.
O que leva ao desespero? A fé, a crença, não pode ser esconderijo ou fuga das responsabilidades. O desespero é querer ter ou ser o que não tem possibilidade ou se matar para conseguir determinados objetivos. A não aceitação, o descontentamento, a busca de aprovação, tudo leva à depressão e à tristeza e por fim ao desespero. O desespero é uma angústia mal vivida, a pretensão de se fazer reconhecido pelos outros. A vida não é comparação e nem disputa, ela é singular, cada um é o que é, a felicidade é viver o tempo presente com o que se apresenta. Uma vida arrastada e submetida à opinião alheia leva ao esvaziamento de si, a viver de aparência e até ao desespero total que é o suicídio. Uma coisa é se entregar a um ideal, outra é querer negar a própria existência. O suicídio não é ato de coragem, é incapacidade de administrar as próprias desgraças, é orgulho e também é fuga dos problemas.