Incompreensível
Esse é um relato de tentativa.
Tentativa de aproximação do distante.
Alteridade talvez.
Ou forma de traduzir mera empatia.
Nunca fui boa com números.
Nem conheço, de cabo a rabo, toda a legislação.
Tampouco, sou entendedora das burocracias.
Mas, eu não faço ideia, também, da fome.
Do que é ter sede.
Desconheço o que é não ter um teto.
Para me esconder do frio.
Ou descansar na sombra devido ao calor.
Sobretudo, para chamar, simplesmente, de lar.
Onde ser humano encontra a dignidade.
A dignidade que lhe é própria, inata.
Da natureza de sua humanidade.
Eu, sinceramente, não sei.
O que me assusta é grande gente desconsiderar.
Anular a outra gente.
Gente que, também, é gente.
Somos todos.
Não me parece muitas vezes.
Vão dizer que é hipocrisia minha.
Sim, até acho que seja realmente.
Nem possuo instrumentos necessários
E legitimadores da transformação social.
Ou faço, na prática, coisas significativas
Para mudar o cenário brasileiro.
Contudo, posso afirmar que sinto.
Eu sinto porque é absurdo.
Apavora demais.
A gente precisa tomar consciência da crueldade.
Então, eu escrevo.
Ainda assim, não sei usar todas as palavras.
Palavras essas que abarcam o sentimento dessa gente.
Nem você saberia.
Confesso que já procurei entender a gente.
Mas, a verdade é que eu nunca vou compreender.