L.inha H.orizontal
Estrondou e logo tudo alagou.
Gotejava água de dentro para fora e logo tudo alagou, cachoeira.
Ruínas, escombro a dentro estava eu, soterrada.
Falta o ar, quase falta ar, só mais um esforço, só mais um dia, quem sabe chega ajuda, um reforço, Socorro.
Paralisei, estado letárgico, desespero, pesadelo em vida, olhos estatelados, um grito.
Paciência, respiro fundo, sonho, delírio...você.
Fora o desabar em ruínas mais forte que ouvi desde o dia em que meu coração palpitou em ritmo de repique, quando você passou em minha frente.
Senti teu cheiro, e antes que eu pudesse me dar conta do que estava acontecendo, você estava impregnado em mim.
Eu lhe vi por tantos dias, mas por um descuido, lhe enxerguei. Lhe enxerguei com o coração e não pude mais controlar tamanha sensação de êxtase.
Fui arrebatada pelo seu olhar negro, escuro, profundo como um abismo, infinito, e eu mergulhei.
De cabeça pulei dentro da escuridão dos seus olhos e descobri um universo de desejos. Olhos negros e misteriosos, sinuosos, insinuativos.
Seu olhar serpenteia, dança, envolve e encanta minh'alma que ainda tocada pela inocência sucumbe ao seu charme.
Me pus a lhe encarar, tatear seu rosto, sentir tua pele, seu cabelo, sentir teus lábios antes mesmo do beijo. Eu, em frente a você, não existia, era sonho, você era o meu sonho. Mal podia piscar, o receio de lhe perder por um segundo, em um segundo, mal me permiti piscar.
A respiração em descompasso fazia meu corpo formigar, tremer, descoordenar, não tive reação, mal podia piscar, me beija?
Por detrás de mim o raio de sol nos cobriu e o seu olhar negro descamou em multicor, cor d'ouro, mel, girassol, e meu sorriso se fez bobo, cabeça pendeu, meu olho brilhou e parou em você, flash, eterno flash.
Lhe abracei, com os braços, as pernas e a alma, senti teu cheiro e antes que eu pudesse me dar conta, ele estava impregnado em mim.
Voltei ao tempo, senti-me à flor da adolescência cavalgando contigo, vento rasgando a pele, meu encanto, o desejo do final feliz, do resgate na masmorra, do beijo que desperta, da rosa petalada, de suas mãos em meu cabelo...ah príncipe, o baile ainda não acabou, está tocando nossa música mas badalou a meia noite e a carroça virou abóbora, você precisou ir.
Eu, ainda inebriada tentei lhe alcançar, mas os portões se fecharam atrás de você, nada pude fazer, de joelhos eu cai e quando olhei pelo buraco da fechadura vi você, longe, miragem minha, ainda tentei lhe tocar, miragem minha, tentei lhe sentir, miragem minha, seu cheiro me escapou, miragem, blackout.
Tudo alagou, estrondou, sem ar, sufocando.
Ultimo segundo, senti teu cheiro, sorri feliz.
Estrondou, gaveta fechada, ainda sinto o seu cheiro, girassol, eterno flash.
Boa noite.