Ninguém deveria dizer nada

Alguém sabe o que é uma pessoa se perguntar: "Eu precisava nascer? Eu deveria existir?" Não, não sabe. Eu não estou no coração de outra pessoa, nada sei do que ela sonhava ou esperava da vida, que frustrações experimentou e quais suas ideias de felicidade.

Como posso, então, atrever-me a lhe dizer coisas superficiais como: " Como você pode se sentir assim tendo uma vida tão boa?" Eu não sinto a dor daquela pessoa, sequer consigo imaginar o que oprime seu coração ou o peso da solidão que ela é obrigada a carregar. Então, que ninguém venha me dar opiniões vazias. Apenas eu sei como é andar com esta sensação de inutilidade e vazio que insiste em me acompanhar, flutuando ao meu redor como um espectro sombrio, cavando continuamente um buraco dentro de mim.

Tento preencher meus dias, mas este espectro não me deixa, adora se alimentar de meu desalento e me atormentar com pensamentos que nascem em mim como ervas daninhas.

Digam-me que tudo está belo, radiante e ensolarado e eu enxergarei tudo cinza, porque, na verdade, meu mundo interior está cinza e sem graça, frio e tenebroso como um pântano assombrado pelos fantasmas dos meus antigos sonhos.

Portanto, não tentem me dizer frases tolas de ânimo. Elas são como analgésicos que não combatem realmente uma doença. Melhor admitir toda minha dor, que já se tornou parte de mim.