___________________________________VEIO
Veio, para tomar fôlego, no descanso do meu sono.
Veio, temulento de horas, vi-o ao meu lado,
os olhos sábios e, ao pé da cama,
veio e antes de passar a ser sombra,
apertou-me a mão com força.
_ Pode ser que algum dia...
Ouvi sem que ele precisasse abrir a boca. Ele parecia me conhecer e iluminou-me com os seus olhos maduros. E antes de recuperar as formas escuras, me sorriu suavemente.
Veio e eu não senti medo. E quando veio, tenho a certeza, não o foi pela última vez.
_ Não posso levá-la comigo. Mas tudo fica para depois.
Ele tinha um cheiro amadeirado e com um jeito rotineiro, nada desconhecido. Talvez alguém com quem caminhei, centímetro a centimetro duarente outras vidas.
E durante alguns minutos, revelou tudo o que há dentro de mim, na compreensão de uma unidade calma. Parecia entender a doença da minha alma e o meu sorriso mais escangalhado para o mundo. Vela-me antes mesmo de eu ter nascido. E me fez em vez de espinho a pétala.
_ Às vezes tenho estado sentado na cadeira, uma vez, enquanto dormia e quando nasceu o pesadelo, cheguei a bordo de ti, te fiz coberta de musgo. Então como é que se sente? Peguntei-lhe num sussurro e um sorriso floresceu quando tudo, de um modo geral, lhe era desconhecido. Não suportava mais olhar para aquele pesadelo. Fazia-me lembrar...
E sumiu.