Banheiro.

Pergunta-me por que a escolha de tal cômodo foi assim feita por mim, talvez eu não tenha bem uma definição e nem um por quê para assegurar o motim da eleição deste lugar. Eu de fato me encontrava num banheiro, quando ao olhar para tecto, rememorei os instantes bons e amargos, cheios de correntes tênues entre descobertas e mazelas, exibidores de dúvidas perenes. Deve ser a princípio e em minha casa, o banheiro, o lugar onde mais gosto de estar quando quero pensar e também quando não quero. Sem intervalos, talvez narcisista, no espelho fico olhando-me como quem nunca se viu e até não se conhece, não se conhecendo mesmo. Já ali dormi, só levantando antes do sono terminar por não querer explicar meus motivos, desejando não ser flagrada. Falando com Aquele que creio ser dono de mim, lá estive a estar. Há no chão dos banheiros, as cenas que resolvemos vestir durante o dia, desmanchadas em ocasiões pelo cair da água no corpo, de quando em quando pela nudez incendiada e sendo observada por críticas paredes insolentes e importantes fazendo cara de nada e sem preocupação.

Mirela Lourdes
Enviado por Mirela Lourdes em 23/09/2019
Código do texto: T6751636
Classificação de conteúdo: seguro