Imensidão

Estava ele caminhando pelo deserto. Era um rapaz jovem, um pouco delgado e esguio, tinha os cabelos largos de cor marrom claro, mas para se proteger das grandes ventanias que tinha ali, ele usava um lenço na cabeça como proteção. Seus ósculos escuros tampavam seus olhos meio caídos, que mais parecia que estava bastante cansado. O sol já havia queimado seu rosto, e provavelmente ele sentiria incomodo se o tocasse. Sua camisa estava bastante suada, sentia muito calor. O suor escorria desde sua cabeça protegida, até suas costas e seu peito e barriga. Uma calça de tecido leve, essas que se usam para fazer trilha, já estava um pouco rasgada na barra, que estava com marcas de pisoes de seu tênis, que por sinal estavam em boas condições, mas tinha o cadarço esquerdo desamarrado. Eram essas botas que também usam para trilhas. Percebemos que o rapaz está por completo no deserto, quando olhamos ao redor e vemos que a imensidão de areia se ver por todos os lados. As linhas das dunas que se formam no horizonte criam imagens distintas que podem confundir o rapaz em formas de miragens. É difícil compreender o que esse rapaz faz ali; caminhando no meio do deserto. A impressão que tive ou qualquer situação que pude imaginar, ao vê-lo, foi que caiu de paraquedas, abandou seu equipamento e seguiu em busca de alguma direção. Ou até mesmo que um óvni ou algum veículo voador que seja, o tenha deixado ali no meio do deserto. Mas pelo seu estado, o mais provável que seja, é que ele chegou até ali caminhando mesmo.

Após ter caminhado, o rapaz aparentava bastante cansaço, já não podia caminhar. Se sentou na areia, e com um gesto natural, recolheu um pouco de areia com a mão e a soltou no ar. A areia que caia de suas mãos, voavam com o vento e se juntavam com os outros incontáveis grãos de areia que se estendiam para o horizonte. O rapaz mais uma vez recorreu mais grãos de areias com a mão e os soltou diante o vento. E uma terceira vez fez novamente, mas dessa vez, quando o último grão de areia tocou os solo, ele, somente ele começou a girar em torno de si mesmo, e assim todos os demais grãos começaram a fazer o mesmo, e em questão de um segundo, um raio de cinco metros tinham grãos girando que formavam uma grande vibração. O rapaz, assustado, tentou se colocar para fora do grande circulo de areia vibratórias, mas já era bastante tarde. O centro do circulo começou a se afundar, e o rapaz já estava escorregando para dentro daquele grande buraco que havia acabado de se formar. O rapaz seguiu escorregando por uma descida de mais de quinze metros. No final desse escorregador mortal, tinha uma entrada redonda, que por onde estava entrando toda aquela areia, e segundos depois o rapaz. Ele caiu dentro da escura caverna.

Caído ao duro solo, sobre a areia que havia caído junto com ele que por sorte, essa areia tinha amortecido a sua queda. O rapaz se manteve deitado ali por um tempo. Mesmo com a queda de cinco, seis metros de altura, para ele parecia um alívio, pois agora não sentia o sol que até pouco tempo queimava sua pele, e não sentia o calor de quarenta graus que também fazia lá fora. Depois de respirar fundo, o rapaz se levantou e saiu do pequeno monte de areia, onde estava. Antes a imensidão ao seu redor era de areia, e agora se colocava como uma escuridão inimaginável. A escuridão naquele lugar, se fazia presente como água, ou melhor, se parecia o fundo do mar. Era densa. Agora de verdade o jovem se sentia no meio de um nada, não sentia mais as areias sobre seus pés, e tão pouco sentia o vento que antes estava forte e constante. Para sua segurança, o rapaz apoiou sobre os joelhos e começou a se mover tateando o solo, pois tão pouco sabia se a sua frente tinha uma parede ou um precipício. Ele foi a diante e tateou algo. Parecia uma parede. Ele se pôs de pé, e tateando mais a parede, encontrou ali a altura de um metro e vinte centímetros do solo uma maçaneta, ele então percebeu que o que tocava não era uma parede e sim uma porta. Ao abri-la, o jovem clareou tudo que estava ao seu redor. Depois daquela porta, tinha luz. E com a luz que saia daquela porta, o jovem pôde observar a sua volta que estava em um imenso cômodo e que a luz que para ele estava forte, no meio daquela imensidão, não era nada. No deserto, ele se sentia como mais um grão de areia, e agora ali diante aquela luz, ele se via como único. Diante de uma porta, a sua esquerda a parede se estendia para quilômetros e quilômetros e para a direita, igual. A impressão que dava, era que aquilo estava debaixo de todo aquele deserto. Era como pensar que ali embaixo fosse o lado oculto do deserto. Ou até mesmo que ali dentro fosse o deserto em sua melhor maneira, aonde não continha luz, vento, areia, ruídos. Somente tinha, a escuridão e ele. Caso o rapaz soltasse um grito para aquele deserto escuro, ele tão pouco escutaria o eco de sua voz. Os únicos ruídos que escutava eram os emitidos pelo seu próprio corpo. Seu coração palpitava, seu estomago grunhia, seu joelho direito estalava quando caminhava, sua mente, sua mente falava alto dentro de sua cabeça. Se antes sua voz tampouco ecoava, em sua mente, sua voz ecoa e ecoa muito. Tudo que ele pensava ecoava pelas paredes de sua mente. Após ter calado por completo tudo que tinha ao seu redor, ele percebeu o quão forte era a sua mente e tão potente se tornou diante todo aquele silêncio. Aquele rapaz já não era o mesmo.

Após ter se acostumado com a forte luz que o iluminava, o jovem caminhou para o outro lado da porta. Lá dentro se observava um espaço em formato octogonal, que em nas paredes, teto e chão, tinham espelhos que refletiam a forte luz que era emitida pelo centro da sala. No meio da sala tinha um lago de tamanho mediano que recebia areia luminosa que se caia de um buraco do teto. A luz emitida pela aquela areia que se caia, fazia como se tudo ali fosse leve e suave, o jovem tinha a sensação de estar dentro de uma imensa nuvem clareada pela luz do sol. Era possível sentir a luz tocar todos os lados do seu corpo. Ali naquela sala nenhum lado ou canto não era iluminado. Aquela luz branca quase azul, trazia uma sensação de paz para o jovem, podia estar de olhos fechados e mesmo assim podia enxergar a luz que passava através das suas pálpebras. Até seu pensamento agora era iluminado. O jovem que antes havia si compreendido e si conhecido, agora via as coisas com clarezas e atenção.

Do outro lado do lago de areia que tinha no meio da sala, tinha um gato grisalho sentado e olhando para o jovem. Os tons de cinzas se espalhavam por todo o corpo do gato, aonde algumas partes chegavam a ser brancas, e os tons mais escuros eram completamente cinzas. Seus olhos, tinham as pupilas pequenas, devido a claridade, e quase por totalidade, a íris tomava conta dos olhos do gato, aonde suas cores se mesclavam entrem um amarelo mais ao centro, perto das pupilas, e do meio para os cantos ia se tornando mais verde. O gato olhava para a jovem, que já tinha percebido a presença do gato ali, devido aos espelhos que também havia feito reflexo do gato.

Olhando para o jovem, o gato disse:

- Olá jovem! Estou te esperando há muito tempo.

O jovem, que tomou um susto ao escutar a voz do gato. Se curvou um pouco para a sua direita para poder enxerga-lo de verdade, e não por reflexos. Se aproximou do gato, se abaixou, para vê-lo mais de perto e respondeu.

-Há muito estou te buscando, o que eu preciso fazer? – Questionou o jovem.

-Nosso papo aqui não se prolonga muito. Sente-se aqui aonde estou. – Disse o gato saindo de onde estava, deixando espaço para o jovem se sentar. – Feche seus olhos, e comece a meditar.

O rapaz se colocou em posição de lotus, fechou seus olhos e começou a meditar. O gato ainda calado, olhou para o jovem por uns cinco segundos, virou as costas, e seguiu para a direção da porta. Saiu da sala e a porta se fechou, deixando por completo toda aquela forte luz dentro daquela sala.

João Paulo Ramos
Enviado por João Paulo Ramos em 10/09/2019
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