Diário: Reflexões sobre vida e paternidade.

Acho que tudo na vida do ser humano é uma fase. Iniciei minha vida adulta ainda muito criança, portanto, tenho uma tendência a ser um pouco precoce nas minhas fases e não é mais segredo que uma delas chegou com forte impacto na minha vida: o desejo da paternidade. No auge dos meus vinte e um anos, não suporto mais ver uma criança, um bebê chorando, uma mãe amamentando o seu filho... Tudo me encanta de forma singular. O sorriso de uma criança desconhecida faz meu coração palpitar e as vezes até arrepiar. A fase chegou e ela está sendo bem contundente em afirmar que chegou a hora de eu cumprir meu maior papel biológico no mundo: reproduzir.

Mas com toda força eu grito ao tempo que pare! Não estou pronto! Ainda não é o momento. Tenho dois empregos e mantenho uma graduação integral em engenharia elétrica em uma universidade federal. Esse não é o momento de ter um filho. Quando temos filhos, temos que estar prontos a abrir mão de nossas vidas para viver a vida dos nossos filhos. Não significa necessariamente isso, mas temos que estar prontos caso seja necessário. Filhos são extensões de nós, corações que batem fora do nosso peito, mas que tem desejos e necessidades próprias que nem sempre são complacentes com as nossas. Meu pai que o diga! Ainda não sei se não temos nada ou tudo a ver.

E por falar na minha graduação, em um dos meus empregos dou manutenção hospitalar em equipamentos cirúrgicos. Confesso que esse é um dos melhores empregos que já tive. Estar ali e saber que o meu trabalho ajuda as pessoas a ficarem vivas é realmente fascinante, sei que uso o meu conhecimento para semear a vida e não o contrário, como muitos outros fazem. Mas hoje, especialmente, foi diferente. É muito comum que eu trabalhe diretamente nos centros cirúrgicos, isso acontece quase todos os dias. Algumas vezes até me confundem com médicos ou enfermeiros. Também é comum que eu fique em sala durante procedimentos, afinal, um equipamento que ainda está em testes precisa que alguém esteja lá caso ele pare repentinamente de funcionar.

Mas voltando... Hoje fui realizar uma manutenção programada em um hospital local, e ainda enquanto me trocava para entrar no bloco ouvi um choro de uma criança. Era mais uma a vir a vida, era um choro que dizia “Olá mundo, eu cheguei. Ouça o meu cumprimento e encha meus pulmões.” E ainda do vestiário abri um sorriso imenso. Mais uma vida se iniciava e isso é incrível! Quando enfim estava pronto e entrei no centro cirúrgico, me deparei com uma coisa que nunca havia visto: um festival de partos. O hospital não é uma maternidade, mas um hospital geral. É comum haver partos, mas eu nunca tinha visto tantos simultaneamente. Logo de cara, vi o rosto daquele bebê que antes chorava. Era um menino, e já estava nos braços no pai que o aninhava, ainda meio sem jeito, enquanto a mãe descansava deitada em uma maca no corredor do centro. E quando olhei ao redor vi que, além daquele, haviam mais quatro partos acontecendo e um para se iniciar.

Sorri, cumprimentei os novos pais, e prossegui pro meu serviço. Em uma sala cirúrgica desocupada eu alternava sentimentos entre concentração do trabalho e a euforia de ouvir mais um choro de criança. Esse foi, sem dúvidas, um bom dia de trabalho. Ainda consegui, indiretamente, assistir alguns dos partos. Algumas vezes até sentia os olhos encherem, mas de uma forma boa. Naquele momento eu esqueci dos problemas e das soluções, apenas parei e apreciei a beleza daquele instante. Apreciei o ar da vida que enchia os pulmões de cada criança ao vir ao mundo. Essa é uma das mágicas que ser humano nos proporciona.

Além da paternidade em si eu sou muito fascinado em toda “magia” que a vida tem. Eu crio quatro aves: Lieserl, Lara, Yoki e Airy. São quatro pássaros-do-amor, ou agapornis. Tive todo amor, carinho e cuidado para que eles se acostumassem a viver livres, sem jaulas, e é assim que vivem. Eles me aceitam como parte do bando, e isso sem dúvidas melhora os meus dias.

O meu amor pelas plantas também me mostra muito isso. Criei pequenas estufas para germinar sementes, e é incrível vê o quanto que a vida floresce com tanta facilidade quando damos a ela as condições necessárias. E quando, depois de um tempo, podemos apreciar as flores de certa planta que nós mesmos germinamos, podemos ver como cresceram e desempenham bem o seu papel na natureza. Nesse momento sentimos que também somos parte dela, que também somos responsáveis por isso e sinto que estou usando o meu tempo de vida da forma correta. Gastando o meu tempo espalhando vida, em todas as suas formas.

É incrível olhar para uma semente e vê aquele pequeno broto saindo dela, e ao mesmo tempo é difícil imaginar que aquele pequeno e frágil broto vai tornar-se uma grande árvore centenária um dia. É fascinante ver que somos agraciados com um planeta tão incrível e que a coisa mais rara e singular do universo aqui floresce livre: a vida.

terça-feira, 10 de setembro de 2019.

AçúcarMascavo
Enviado por AçúcarMascavo em 10/09/2019
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