Não culpemos as vítimas de bullying
Quando criança, eu ouvi muito que eu sofria bullying porque a culpa era minha, que eu que devia aprender a me defender, me impor e deixar de ser "besta". Hoje, vejo que isso é muito fácil de se dizer e, além de ser fácil, superficial, cruel, insensível e injusto. Falar que a culpa é de quem sofre bullying insinua muitas coisas. Insinua que ela é que provocou a situação, ou seja, que, porque ela é fraca ou do jeito que é, por isso mexem com ela e a agridem. E essa é uma desculpa muito usada pelos agressores. Uma vez, eu vi num programa infantil os agressores de um menino dizerem a ele: "Você é esquisito, não gostamos de gente esquisita." No mangá Limit, Mizuki Konno, uma menina que faz bullying com suas amigas perseguindo uma colega, diz que a outra sofre bullying por ser do jeito que é. E quem me perseguia na escola dizia muito que era eu que os provocava, causava a raiva deles. Um até disse que, se eu parasse de provocá-lo, ele seria meu amigo. Sinceramente, se hoje eu encontrá-lo, não vou querer amizade com ele.
Culpar a vítima também exime as autoridades escolares, pais dos agressores e os agressores de qualquer culpa, como se a segurança de uma criança injustamente atacada não fosse responsabilidade dos educadores. Que pai quer pensar que botou seu filho numa escola, esperando que lá ele faça amigos e aprenda, para imaginar que ele está sendo marginalizado por um motivo que talvez só exista na cabeça de quem o agride?
Cabe-nos lembrar que quem faz bullying não escolhe aleatoriamente suas vítimas e sempre irá intimidá-las numa situação em que esteja em vantagem.Ninguém vai mexer com uma pessoa agressiva e que saiba se defender, não é? Os praticantes de bullying geralmente também atacam em grupos uma só pessoa. Quem faz bullying é covarde, nunca brigará com alguém sem ter certeza de que sairá vencedor.
Escolher por dizer que a culpa é da pessoa agredida é minimizar o problema, transformando-o em algo que só diz respeito a quem faz e sofre bullying. Mas é um problema que diz respeito a todos, principalmente aos pais e professores, que devem entender que já passou o tempo de se dizer que isso é só "besteira de criança."