Da morte Livre

"Vem, vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer" __Geraldo Vandré

Sua Hora está chegando, seu coração aponta para o abismo de luz. Como a mariposa ele bate suas asas em direção ao fogo transfigurador, ele anseia pela última metamorfose, o fogo anseia por transfigurá-lo. Um último salto, um último suspiro antes de despedaçar a alma em múltiplos espectros astrais.

A vida lhe pede paciência, mas seu coração não consegue se aguentar. Quanto mais ele recupera a saúde, a alegria de sonhar e desejar, tanto mais pronto ele se sente. Ele quer partir sem mágoas, de coração vazio e confiante, sem ressentimento, alegre como quem celebra a vida. Ele quer o desconhecido, o ato final, o baixar das cortinas - quer voltar para casa. Ele não está fugindo, ele não está doente, ele está indo ao encontro; quer elevar seu livre-arbítrio à suprema responsabilidade. Quem nunca se deixou ao acaso cria sua própria condição existencial.

Se haverá consequências? Que importa! A vida é uma consequência...

Há tantas coisas que poderia viver, mas não, ele se cansou do conhecido. Seu destino está quase completo. Ele quer, como último remanescente de sua vontade de conhecimento, realizar o derradeiro método - a Morte Livre. Não como uma queda, como negação da vida, pelo contrário, seu desejo é uma afirmação da vida, e seu sonho é que ao cabo de sua aventura tudo que vivera possa retornar na mesma ordem - é sua maneira de honrar todas as coisas terrenas que ama, encerrando-as na eternidade dos ciclos infinitos; porque ele ama esta morte que é vida em transfiguração eterna. Ele quer consumar sua obra para a eternidade, para os deuses e para si mesmo; ele se sabe dentro de um palco, e, que este mundo foi criado em vistas ao espetáculo.

Fiódor
Enviado por Fiódor em 27/08/2019
Reeditado em 27/08/2019
Código do texto: T6730295
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