A extensão interior do espaço exterior
A escuridão só existe porque a imensidão da vida é imensurável, não podemos ver seu fundo, nem se há fundo, logo, há a aparência de escuridão; assim como a morte das formas nos causa a aparência de que a vida morre, de que morte e vida são coisas separadas. O que morre é apenas um aspecto diminuto da realidade compactada no reducionismo dos sentidos, uma mera ilusão de ser. Eu cavei o mais profundo que fui capaz, e não encontrei chão, não achei o ser. Isso me desesperou; porém, fui salvo por uma visão: - Tudo é luz, claridade, espaço, consciência. Meus olhos penetraram na escuridão, e quanto mais fundo nela eu ia mais ela se afastava de mim. Então percebi: - Sou luz!
Por anos apontei o abismo como negativo, terrível, sombrio, vazio e tedioso. Agora eu vejo, minha consciência clareou: eu estava cego pela luz.
Vejo, sem ver, a luz na qual estamos mergulhados como peixes no mar; o vazio não é vazio, está cheio de si mesmo. Aquilo que não é manifesto - que não se destaca - é a consciência cósmica da Vida que, por meio da consciência individualizada, se vê exteriorizada no espaço entre os objetos dos nossos sentidos. Neste reino interior não existe tamanho, medidas, contornos, formas, é um nada cheio de vitalidade, um único olho que tudo vê, olhando de incontáveis perspectivas, dentro e fora. "Aqui" estamos para além dos sentimentos e conceitos.
Às vezes o medo reaparece, e me pergunto onde estou. Meu corpo se move impulsionado por um destino interno que lhe é biologicamente inerente, não me identifico com ele. Desprendi-me das formas, estou em toda parte e em parte alguma. Não me vejo em lugar nenhum, sou uma consciência não-local. Fui lançado para fora da órbita do corpo, ou sou apenas um sonho?